Uma cidade, dois continentes: Bem-vindo a Istambul

Adobe Stock: Istambul, Turquia – Seqoya
Acontece quando menos se espera. Talvez quando você estiver no último piso da Torre de Gálata observando os minaretes a espetar a topografia da cidade como alfinetes numa almofadinha. Talvez durante uma caminhada pelo bairro dos bazares ou procurando um lugar para jantar nos arredores da Istiklal Caddesi, a rua de pedestres repleta de atrações do bairro de Beyoglu.
Não se pode precisar com exatidão, mas o fato é que você será fisgado por Istambul. Prepare-se para uma paixão avassaladora, do tipo que só faz crescer com o passar do tempo e que o levará a compreender perfeitamente porque a cidade seduz tantos povos desde sua fundação no século 7º antes de Cristo. Istambul é mesmo apaixonante.
Embora não seja capital da Turquia desde 1923 – substituída pela burocrática Ancara – Istambul não perdeu a majestade. É na antiga Constantinopla, objeto de desejo de bárbaros, cruzados, guerreiros otomanos e outros conquistadores, que se concentram os monumentos históricos e religiosos mais importantes do país. E é lá também que a Turquia se mostra cosmopolita como nunca, vibrante e transpirando energia no dia-a-dia – e no noite-a-noite também.

Adobe Stock: Istambul, Turquia – Boris Stroujko
Istiklal
Nas travessas da Istiklal, a vida parece começar depois das seis da tarde, com a abertura das portas de bares, clubes e cabarés das mais variadas tendências sexuais. Alegres por natureza, os turcos se tornam eufóricos quando caminham pela rua de pedestres, procurando restaurantes e bares, xeretando as vitrines de grifes moderninhas, como Diesel e Puma, dividindo espaço com turistas e bondes, curtindo a noite até altas horas. E, geralmente, na santa paz. Confusão mesmo só quando os torcedores dos times de futebol saem para comemorar a vitória de seu clube – e mesmo assim, é só gritaria. Ninguém sai chutando vitrines ou quebrando lixeiras, como em outras cidades que a gente conhece.

Adobe Stock: Taksim Istiklal, em Istambul – MISHA

Adobe Stock: Conhecida como a famosa vista turística da Grande Avenida de Pera – Xbrchx
Chifre de Ouro
Bom para se hospedar e sair à noite, o bairro de Beyoglu é um tanto desguarnecido de atrações turísticas diurnas. Para aproveitar melhor o que Istambul exibe à luz do sol, é preciso atravessar o Chifre de Ouro, o braço de rio que separa Beyoglu (o lado moderno) de Eminönü (o lado histórico).
O nome esquisito tem uma explicação charmosinha: contam que, para escapar dos guerreiros otomanos, os bizantinos jogaram tantos tesouros nas águas do canal que elas brilhavam como ouro. Exagero? Pode ser. Mas tem lá sua graça.

Adobe Stock: Ponte sobre o Corno de Ouro, Istambul – Sailorr
Um passeio legal, caso você não seja preguiçoso, é cruzar a Ponte de Gálata, construída em 1992 para substituir uma antiga, de madeira. A ponte tem dois andares: no de baixo, dezenas de lanchonetes servem sanduíches de peixe e de carneiro para quem conseguir comer sentindo o cheiro pouco apetitoso que vem da água.
No piso superior, onde se apanha o bonde que leva aos pontos históricos, centenas de pescadores passam o dia fisgando peixes no Chifre de Ouro. É preciso tomar cuidado com os anzóis que, distraidamente, podem fisgar seu corpo na hora do arremesso.

Adobe Stock: Por do Sol em Istanbul – SJ Travel Footage
Sultanahmet
O outro lado do Chifre de Ouro é repleto de atrações, a ponto de você achar que não vai dar conta de ver tudo. Relaxe: não dará tempo mesmo, a não ser que você fique uns 15 dias por lá. Num pacote normal para a Turquia, três ou quatro dias são dedicados a Istambul e é com esse prazo que as pessoas costumam lidar. Com uma certa organização, dá para ver muita coisa.
Começar pela área de Sultanahmet pode ser uma boa pedida, já que muitas atrações turísticas ficam ali: a Mesquita Azul, a Basílica de Santa Sofia, os obeliscos do Hipódromo e as cisternas da basílica estão entre os pontos mais concorridos. Os obeliscos, mais rápidos de se visitar, ficam numa praça onde havia um estádio para 100 mil pessoas. Várias ruínas cercam três colunas: um obelisco egípcio, de 1.500 antes de Cristo, uma coluna grega e um obelisco do qual foram extraídas as placas de bronze que o decoravam. É um belo exemplo da transitoriedade das coisas.

Adobe Stock: A Mesquita Sultanahmet (Mesquita Azul) – Istambul, Turquia – Muratart
A Basílica de Santa Sofia – hoje, um museu – é fascinante, por vários motivos, a contar por seus quase 1.500 anos de história: construída pelo imperador Justiniano, em 537, ela seria transformada em mesquita pelos otomanos, no século 15. Santa Sofia, na verdade, não se refere a alguma santa católica; o termo sofia, em grego, significa sabedoria e, por isso, o nome do templo é uma homenagem à sabedoria sagrada.

Adobe Stock: Antiga catedral patriarcal cristã ortodoxa grega – Anahtiris
A parte interna do prédio, construída para ser um espelho do céu, segundo os arquitetos, mostra cúpulas de 56 metros de altura, decorados com gigantescos símbolos do alfabeto muçulmano e também com mosaicos bizantinos de extrema delicadeza, como o Deësis, em que aparece um lindo Cristo Pantocrátor.
O outro grande monumento religioso de Sultanahmet é a deslumbrante Mesquita Azul. Erguida entre os anos de 1609 e 1616, o templo deve seu nome aos azulejos que decoram suas paredes internas. Enorme, o prédio é um dos símbolos de Istambul, com seus raríssimos seis minaretes.
Segundo os mais religiosos, uma mesquita deve ter quatro minaretes, para não se mostrar maior do que as mesquitas de Meca, a cidade sagrada do Corão. Seis minaretes seriam prova de uma certa arrogância do arquiteto. O sultão que encomendou a obra, Ahmet I, foi muito criticado por esbanjar dinheiro numa época em que os tesouros otomanos já não tinham a força de antes.

Adobe Stock: Süleymaniye é uma mesquita imperial otomana Istambul, Turquia – Blackdiamond67
Muitas mesquitas
Isso tudo, no entanto, é coisa do passado. O importante hoje é sentir ao vivo a imponência da obra do arquiteto imperial Mehmet Aga, desde a parte dedicada aos banhos rituais até o interior, iluminado por 250 janelas e decorado com centenas de tapetes de oração.
Aliás, vale lembrar que os templos de Istambul não perderam sua função religiosa. Reza-se, e muito, em cada uma das 2.500 mesquitas da cidade, mesmo nas mais imponentes. Assim, quando visitar alguma, trate de se manter em silêncio ou, pelo menos, fale bem baixinho.

Adobe Stock: Foto do pôr do sol do pátio da mesquita Grand Camlia – Khaled El-Adawi
Topkapi
Perto da mesquita e da basílica, outro imponente monumento merece sua atenção. É o Palácio Topkapi, construído no século 15 pelo sultão Mehmet 2º, na colina que assiste ao encontro do Canal de Bósforo com o Mar de Mármaris. O que chamamos hoje de palácio, na verdade, é um conjunto de museus, pátios, monumentos e palacetes.

Adobe Stock: Interiores do Palácio de Topkapi e vitrais em Istambul – Savvapanf Photo ©
A família real viveu ali até 1853 e o conjunto de prédios foi aberto ao público em 1924. Está assim até hoje, visitado por milhões de turistas diariamente. Nos feriados, levam-se horas para cruzar o primeiro portão. Mas seja qual for a demora, enfrente com paciência. A recompensa será um incrível desfile de tesouros, com joias saídas dos sonhos mais delirantes para serem expostas no museu do palácio.

Adobe Stock: Palácio Topkapi, Istambul – RuslanKphoto
Em Topkapi tudo é impressionante, dos jardins aos tetos das salas. A área de leitura do sultão, com vista para o Bósforo, empata com a sala onde repousam as relíquias do profeta Maomé – seus dentes, alguns fios de sua barba, suas espadas. Durante todo o dia, cantores entoam cânticos religiosos para honra e glória de Alá e seu profeta. Percorra todos os cantos – da cozinha real ao harém – e pare para tomar um lanche no restaurante do museu, com direito a uma vista deslumbrante da cidade. Se der tempo, visite também o Museu Arqueológico, a Casa da Moeda e a Igreja de Santa Irene, todos integrantes do mesmo conjunto arquitetônico.

Adobe Stock: O Harém dos Sultões no Palácio de Topkapi – Stefano Zaccaria
Os grandes bazares
Depois de tanta demonstração de fé e cultura, se entregue às compras – e a seu mais importante ritual, o da pechincha. E não há lugar melhor na bela Istambul do que pechinchar nas centenas de lojas do Grande Bazar. Aquilo é um labirinto e, para não se perder muito, tente marcar a porta por onde você entrou. Há várias e, se você pegar a saída errada, vai perder um tempão tentando se localizar novamente.
No emaranhado de corredores do Grande Bazar, compram-se tapetes, louças, artesanato, suvenires, joias e roupas (muitas delas falsificadas). Não espere muita variedade: depois da segunda rua de lojinhas, tudo fica meio
repetitivo. Mas o ritual das compras continua valendo a pena. E parar para
tomar um café ou um chá de maçã é sempre legal.

Adobe Stock: Grand Bazaar em Istanbul – Epic_images

Adobe Stock: Grand Bazaar em Istanbul – Epic_images
Outro ponto bom de compras em Istambul é o Bazar das Especiarias, ou Bazar Egípcio, às margens do Chifre de Ouro, entre a Ponte de Gálata e a Mesquita Nova (não se deixe enganar pelo "nova": a mesquita foi construída entre 1597 e 1663). O Bazar das Especiarias é bem menor que o Grande Bazar, mas é muito interessante também: luminárias, artesanato e, é claro, especiarias são seus principais produtos à venda. Mais que nunca, aqui continua valendo a regra do pechinchar, pechinchar sempre.

Adobe Stock: Grand Bazaar em Istanbul – Epic_images
Bósforo
Nenhum passeio a Istambul será completo sem o passeio de barco pelo Bósforo. Se puder, opte pelo “completão”que dura o dia todo. A primeira parte é igual ao pacote simples: o barco sai do cais e cruza sob a ponte do Bósforo, uma das maiores estruturas suspensa dos mundo.
A construção tem 1.560 metros de comprimento e está 64 metros acima do nível da água. Mas você não veio até aqui só para ver ponte. Fique atento às margens, onde brilham palácios e palacetes pertencentes a famílias ricas de Istambul. Aqui e ali, um destaque, como o Palácio Çyragan, onde funciona o luxuoso Hotel Kempinski, e o Dolmabahçe, cujos portões à beira d’água eram usados apenas pelas embarcações reais.

Adobe Stock: Alacati Cesme, Izmir Turkiye (Turquia) – Raul77

Adobe Stock: Cidade Velha de Estambul com Bósforo,Turquia – Jjmillan
O charme do passeio completo é que, logo depois de um almoço num restaurante de comidas típicas à beira do Bósforo, ele continua do lado asiático de Istambul. Ali, o destaque é a visita demorada ao Palácio de Beylerbeyi, antiga residência de verão dos sultões a partir do século 19.
A construção é tão impressionante que seduziu a imperatriz francesa Eugenie, em 1869. Ao retornar a Paris, ela mandou construir uma janela igual ao do palácio turco em seu quarto nas Tulheries. Prova definitiva de que o charme de Istambul espalha-se entre todas as classes.

Adobe Stock: Telhados de Cádiz, Istanbul – Emiliorodri
Atualizada em: 06/09/2024