Pesquisadores fazem grande descoberta arqueológica no interior paulista
Numa escavação realizada no sítio arqueológico Passa Cinco III, localizado em Ipeúna (SP), pesquisadores da A Lasca Arqueologia encontraram uma coleção de aproximadamente 2.000 artefatos de pedra lascada, possivelmente produzidos entre 4 e 8 mil anos por grupos humanos. Com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e edição de imagens, a equipe conseguiu recriar o cotidiano desses grupos, sugerindo como eram utilizadas as ferramentas líticas, bem como outros elementos que podem ter se decomposto ao longo do tempo. Esse trabalho científico surgiu a partir de pesquisas que acompanhavam o processo de licenciamento ambiental relacionado à instalação de uma usina de compostagem na região.
Os artefatos, resgatados em profundidades de até 1 metro, foram fabricados com a mesma técnica utilizada pelos primeiros habitantes do estado de São Paulo. Eles serviam para trabalhar fibras vegetais, madeira, pigmentos, além de auxiliar no processamento de materiais obtidos através da caça, pesca e coleta, como carnes, ossos, tendões, chifres, dentes, couro, conchas, entre outros. Segundo os pesquisadores, trata-se de um sítio arqueológico que serviu como fonte de rochas utilizadas na fabricação das ferramentas e como área de acampamento para os grupos humanos.
“O que chama atenção na coleção, além de seu ótimo estado de conservação, é a quantidade de peças (superior a 2 mil artefatos), o que pode indicar que o local foi utilizado como acampamento e oficina de lascamento por centenas de gerações dos primeiros humanos a povoarem o que hoje é o estado de São Paulo”, afirma Lúcia Oliveira Juliani, geóloga pela Unesp e mestre em Arqueologia pela USP, diretora da A Lasca Arqueologia.
No laboratório da A Lasca, os profissionais estão realizando a limpeza, classificação, medição, pesagem, fotografia e análise de cada uma das peças da coleção. Essa abordagem abrangente é considerada rara, uma vez que geralmente as análises arqueológicas se concentram em tipos específicos de ferramentas. Desde os instrumentos complexos, como pontas de lança e machados de mão, até os menores fragmentos, denominados estilhas, estão sendo minuciosamente estudados. A arqueóloga Caroline Rutz, responsável pelos trabalhos de laboratório, enfatiza o desafio de resgatar uma memória que a maior parte da humanidade já perdeu. Para a maioria das pessoas, esses artefatos parecem meros seixos, mas na verdade são ferramentas utilizadas para diversas atividades do cotidiano.
Atualizada em: 17/01/2024