Recife e Olinda formam um dos destinos casados de viagem mais famosos do Brasil
Assim que bota os pés na capital pernambucana, o turista logo percebe que Recife, a Veneza Brasileira, tem muito o que fazer, graças a vocação inata para misturar ritmos, culturas, tendências e muita história debaixo de um mesmo guarda-chuva colorido. Enquanto seu centro antigo mantém vivo o passado de invasões holandesas, insurreições lusitanas e imigrantes vindos de toda parte, com diversas igrejas barrocas e edifícios coloniais, os hotéis, restaurantes e barzinhos da Praia de Boa Viagem revelam ares de modernidade em suas fachadas, quase sempre adornadas com alguma obra de arte.
A culinária não fica atrás, com receitas que vão desde moquecas e caldeiradas de peixe à beira-mar até buchada de bode, jerimum recheado com carne-seca e uma feijoada típica, feita com legumes. Para adocicar, leite maltado, cartola, bolo de rolo e o tradicional sousa leão. Não bastasse toda essa efervescência de culturas e sabores, Recife ainda é vizinha de Olinda, com a qual divide um dos carnavais mais animados do Brasil. Juntas, ambas as cidades propõe um roteiro regado a maracatu, frevo, manguebeat e o que mais aparecer pela frente.
Recife Antigo
A alma cultural de Recife está intimamente ligada ao seu passado. Por isso, reserve o primeiro dia da viagem para sorver os quase 500 anos de história da capital direto de sua nascente: o Recife Antigo. A melhor maneira de explorar suas atrações é caminhando. E o melhor ponto de partida não poderia deixar de ser o Marco Zero. Dali partem os barquinhos que levam ao Parque das Esculturas de Francisco Brennand.
Na volta, faça umas compritchas no Centro de Artesanato de Pernambuco. Instalada num dos armazéns do porto, a megaloja reúne mais de 15 mil peças feitas por artesãos de todo o Estado. Pertinho dali está o Museu Cais do Sertão, que retrata o cotidiano do homem sertanejo contando, entre outras histórias, a do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Outra grata surpresa de Recife é o Paço do Frevo. Tudo o que você precisa saber sobre o ritmo mais frenético de Pernambuco, intitulado Patrimônio Imaterial do País, está ali, num dos prédios mais bonitos do Recife Antigo.
Cedo ou tarde, quem vai à região sempre cai na Rua Bom Jesus, onde fica a maioria dos bares e construções históricas. Após a invasão holandesa, no final do século 17, judeus perseguidos na Europa se estabeleceram no local, deixando como herança a primeira sinagoga das Américas (hoje, Centro Cultural Judaico).
Arte pernambucana
O programa cultural em Recife pode ainda incluir uma visita à Oficina de Cerâmica Francisco Brennand. Aficionado por esculturas com conotação sexual, o ceramista que empresa o nome ao local transformou a olaria da família, no bairro da Várzea, em um museu-ateliê de atmosfera surreal, com jardins projetados por Burle Marx e uma infinidade de quadros, estátuas e painéis de azulejos.
O sobrenome famoso volta a aparecer no Instituto Ricardo Brennand, um dos melhores museus da América do Sul. O gigantesco complexo arquitetônico de estilo medieval tem tantas antiguidades e obras de arte que boa parte nem é exposta. A maioria das peças data da Baixa Idade Média até o século 21.
A vontade é de passar o resto do dia ali, só observando os detalhes de cada obra, mas o roteiro tem que prosseguir. Se você gosta de umas comprinhas, por exemplo, não vai querer abrir mão de uma visita à Casa da Cultura, em Santo Antônio, onde 130 lojas ocupam as celas de um antigo presídio, de 1865, oferecendo desde rendas e miniaturas de barro até xilogravuras de cordel. Perto dali está a mais bela igreja de Recife, a Capela Dourada (1697), repleta de ouro e pinturas sacras, e a simpática Praça da República com a imponente fachada cor-de-rosa do Teatro de Santa Isabel (1851), ao fundo, e o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo estadual, ao lado.
Olinda
Se Recife é a Veneza Brasileira, Olinda é a nossa Montmartre – o mais boêmio dos bairros parisienses. Agraciada com dezenas de construções coloniais bem preservadas e mais de 600 ateliês de artistas plásticos, gravadores, antiquários e artesãos, a cidade ferve no fervor do frevo, nas noites de seresta no centro histórico e vai à completa ebulição durante o Carnaval, quando 2 milhões de foliões lotam suas ladeiras atrás de trios, blocos de rua, maracatus e, claro, dos famosos bonecos gigantes, símbolo máximo da festa no município.
Para entrar nesse clima e vislumbrar tudo o que Olinda oferece de uma só vez, suba primeiro até o Alto da Sé. É lá que fica a igreja, de 1537, onde dom Hélder Câmara clamou por justiça no Brasil pós-1964. Erguida a mando de Duarte Coelho, a construção mistura diversos estilos entre seus altares banhados a ouro. Mas o que mais chama a atenção dos turistas são mesmo as paisagens banhadas a sol que se avistam do lado de fora, no mirante.
Outro programão em Olinda é fazer uma “via sacra” pelos principais templos religiosos do município, como o Convento de São Francisco (1585), o primeiro da Ordem Franciscana no Brasil; a Igreja do Carmo (1580); a Igreja da Misericórdia e a Basílica de São Bento (1582), a mais rica de todas elas – só o seu altar, de estilo barroco, é revestido com 28 kg de ouro. Durante o tour, dê uma paradinha no número 182 da Rua São Bento para fotografar a fachada da casa de Alceu Valença, cuja varanda vira palco e epicentro da folia olindense já há muitos carnavais. Também é nessa rua que fica o Museu do Mamulengo, com centenas de fantoches de madeira e pano usados no teatro popular de rua desde o século 19.
Atualizada em: 25/09/2023