Os encantos da Península de Maraú, a Bahia que poucos conhecem

Adobe Stock: Península de Maraú, Bahia – Eugênio Lopes
A Península de Maraú é uma das partes menos exploradas do litoral baiano. E, justamente por causa disso, é uma das que reúnem atrações mais surpreendentes. Difícil acreditar que um lugar tão bonito, entre Salvador e Ilhéus, tenha sobrevivido quase intacto até hoje. São quase 50 km de praias desertas, com um mar azul de um lado e uma fileira de coqueiros do outro. Mesmo no auge do verão, o visitante olha para os dois lados e não vê viva alma no horizonte. É praticamente um milagre ainda haver um lugar assim no concorrido litoral do Nordeste.
Muita gente, até hoje, sequer ouviu falar do lugar. Talvez porque Maraú não tenha sido enaltecida em verso e prosa tal como outros recantos da costa baiana. Dorival Caymmi, que cantou as praias de Salvador, não homenageou as piscinas naturais de Taipu de Fora. Jorge Amado, que fez o mundo imaginar as belezas de Ilhéus e Mangue Seco em obras como Gabriela Cravo e Canela e Tieta do Agreste, talvez fizesse do lugar cenário para algum de seus romances.

Adobe Stock: Lagoa do Cassange, Península de Maraú, Bahia – Sérgio Rocha
Vinícius de Moraes na certa dedicaria a ela uma letra de bossa nova se ali tivesse vadiado em um velho calção de banho. Mas não é preciso ser poeta para encantar-se com a natureza da península. Outro motivo para que o “segredo” permanecesse tão bem guardado por décadas foi o isolamento, já que o único acesso por terra até lá, a BR-030, que conecta Barra Grande a Itacaré e Camamu, esteve intransitável para carros de passeio até 2010. Só valentes jipões conseguiam vencer a buraqueira da estrada arrebentada. Assim, antes chegava-se principalmente de barco, vindo de Camamu, o que sempre deu a impressão ao visitante de que ele desembarcava em uma ilha e não em pleno continente.
Adobe Stock: Barra Grande, Península de Maraú, Bahia – Marcio Isensee e SáBarra Grande
Barra Grande tem água encanada, telefone e luz elétrica, mas preserva a simplicidade nas poucas ruas de areia e nas barracas de praia com tetos de palha de piaçava. Pescadores ainda pescam com camboas, armadilhas de madeira fincadas próximo à praia. Não há hippies, patricinhas ou qualquer outra tribo predominante. A vila não cheira a incenso, tampouco a perfume importado. Tudo é simples e discreto. Há um astral calmo e pacato no ar, mesmo à noite.
O negócio, portanto, é relaxar e entrar no ritmo sossegado da vila. Principalmente fora de temporada, quando as ruas ficam desertas pouco depois da meia-noite e o melhor é ir dormir para aproveitar a vocação diurna da Península de Maraú. O próprio nome comprova isso: vem de uma antiga aldeia que ali habitava séculos atrás, chamada mayahú, que em tupi significaria “luz do sol ao amanhecer”.

Adobe Stock: Barra Grande, Península de Maraú, Bahia – Marcio Isensee e Sá
Não poderia ser mais apropriado. Logo de manhãzinha, todo mundo segue rumo à Praia de Taipu de Fora, a 8 km da vila de Barra Grande e principal atração da península. Ali, uma barreira de corais forma piscinas naturais, tal como ocorre em Porto de Galinhas (PE). É, sem dúvida, uma das praias mais belas do Brasil – e, entre essas, a mais desconhecida.

Adobe Stock: Barra Grande na Península de Maraú – Sérgio Rocha
Taipu de Fora
Em uma viagem iniciada em 1984, a família (viajante) Schurmann passou por Taipu de Fora e deixou uma descrição, publicada no livro Dez Anos no Mar, que narra as aventuras da turma nas navegações pelo mundo. Diz assim: “Com a maré baixa, o espetáculo é incrível. Nas pequenas lagoas formadas pela vazante, muitos peixes nadam nas águas transparentes. No mar, para além dos corais, golfinhos dançam e saltam deixando o corpo completamente fora d’água. Vontade de ficar ali para sempre. Partimos do lugar com saudade”.
O relato permanece quase fiel, salvo pelo avistamento de golfinhos, não tão comum assim, e pelo burburinho de turistas, bem maior atualmente do que naqueles tempos, ainda que nem se compare à multidão de Porto de Galinhas. Hoje, é possível ir a Taipu de Fora caminhando pela praia, sem muito esforço desde a vila, em cerca de uma hora. Ou bem menos do que isso se ficar hospedado lá mesmo, pois há excelentes pousadas instaladas na beira da praia.

Adobe Stock: Taipu de Fora, Península de Maraú, Bahia – Sérgio Rocha
Praia e passeios
A praia da Península de Maraú é praticamente uma só. Vai da ponta da vila de Barra Grande até a foz do Rio de Contas, o rio que nasce em plena Chapada Diamantina e deságua no mar, já ao lado de Itacaré. É praia que não acaba mais – 50 km delas para ser mais preciso –, o que significa que, mesmo que novos restaurantes e pousadas brotem das areias nas próximas temporadas, ainda vai levar muito tempo para a região perder o clima de sossego.
Outro ponto turístico local é o Morro do Celular, o ponto alto da região, de onde se tem uma vista panorâmica da Lagoa do Cassange. É um passeio altamente recomendável. A lagoa é uma das mais belas atrações do pedaço. Fica pertinho da areia da praia, a 20 km de Barra Grande.

Adobe Stock: Barra Grande, Bahia – anabanana1988
Ilhas da Baía de Camamu
Outro passeio clássico é o de barco pelas ilhas da Baía de Camamu. Os catamarãs saem de manhã e passam o dia navegando pelas águas tranquilas da baía, parando para que os visitantes mergulhem em diferentes pontos. Um dos pit stops se dá na Ilha da Coroa Vermelha, um banco de areia estreito e comprido, em forma de passarela, que avança mar adentro por quase 1 km e praticamente some durante a maré cheia.

Adobe Stock: Baía de Camamu, Bahia – Eugênio Lopes
Entre as ilhas visitadas, a mais bonita é a da Pedra Furada, emoldurada por um grande arco de pedra esculpido pela natureza. A ilha é de propriedade particular, mas o desembarque é permitido. A última parada, a mais longa do tour, é feita na Ilha do Sapinho. Perfeito para saborear uma moqueca ou uma porção de lagosta à sombra dos pés de fruta-pão. Os barcos retornam no fim da tarde para o píer de Barra Grande.

Adobe Stock: Pedra Furada, Bahia – Samyla
Atualizada em: 22/10/2024