O melhor da cultura e da Gastronomia Mexicana em Puebla, nos arredores da cidade do Mexico
Fundada em 1531, Puebla, a duas horas e meia de carro da capital Cidade do México, é uma das cidades mais antigas do país. Guarda centenas de casarões de arquitetura espanhola, com seus tradicionais balcões e pátios internos, além de catedrais grandiosas e da mais genuína cultura mexicana, que se manifesta na música, nas artes e na exótica e picante gastronomia regional.
Puebla nasceu conservadora, rica e importante, e hoje colhe os frutos dessa história. Nos idos de 1600, foi a capital de toda a Nova Espanha e fazia parte da rota do comércio vindo do Oriente. Desde aquela época, a cidade desenvolveu sua vocação pelo belo artesanato, a boa comida, os bons vinhos e as pomposas igrejas. Há 70 delas só no centro histórico, uma mais linda do que a outra.
Se você precisar escolher uma para conhecer, siga ao templo de Santo Domingo, que abriga a reluzente Capilla del Rosario, onde para qualquer lado que se olhe há entalhes barrocos recobertos de folhas de ouro de 24 quilates. Na saga religiosa, visite também, na Praça Zócalo, a portentosa Catedral de Puebla, erguida a partir de 1550.
A partir daí, basta caminhar por quatro quadras até entrar na Biblioteca Palafoxiana, a primeira do gênero pública nas Américas. Aberta em 1646, foi local de estudos dos filhos dos espanhóis para tornarem-se sacerdotes, e agora exibe 45 mil livros em belas prateleiras de pinho que preservam publicações datadas dos anos de 1500.
Caminhe para conhecer
A melhor coisa a fazer em Puebla é andar, andar e andar, para ir topando com os antigos casarões enfeitados com fachadas de azulejos, que são a cara da cidade. Quando passar pela Calle 8 Norte, não hesite em caminhar com calma. É a rua dos artistas, com uma sequência de ateliês lado a lado, onde não resisti, e você também não resistirá, a espiar pelas frestas das portas os pintores em frente a seus cavaletes.
É por ali também que rola a feira de artesanato El Parián, que ocupa três quarteirões. As barracas vendem ponchos, mezcal (aguardente mexicana feita com agave e que se bebe como a tequila, mas com laranja e sal) e a cerâmica colorida e pintada à mão conhecida como talavera, feita na região há 450 anos.
Gastronomia
Se comprar é divertido no México, comer é melhor ainda. Ao passar por uma banquinha na Calle Santa Clara, a rua dos doces de Puebla, você descobre que até doces levam pimenta (como a maçã do amor, o abacaxi e as balas). Mas é fato que a gastronomia mexicana vai muito além dos pratos calientes. Os nomes no cardápio são indecifráveis e as combinações são inusitadas (tem banana recheada com carne, massa de milho recheada com chocolate…), o que faz cada refeição ser um novo universo a ser desbravado.
Uma boa dica é provar o mole poblano, o adocicado molho mexicano por excelência, nascido em Puebla. É feito com cerca de 30 ingredientes, entre eles chocolate, milho e amendoim. Pode acompanhar, por exemplo, a tortilla (massa fina e redonda de milho) ou a cholupa (tortilla frita). A tortilla, aliás, é servida como couvert em toda refeição junto a pimentas de várias intensidades, feijão, guacamole (pasta salgada à base de abacate) e frango, carne ou verduras.
Ainda há o pastel de elote (torta de milho), o fideo seco (pasta com pimenta chipotle), o chile em nogada (pimentões verdes recheados com carne moída e cobertos com molho de nozes) e a comida que precisei de um certo preparo emocional para provar: os grilos fritos (os chapulines, daí o nome do personagem Chapolin Colorado), vendidos nas ruas em saquinhos para comer como um amendoim.
Sabe o hibisco? Lá a planta compõe o tempero para vários molhos adicionados ao frango, por exemplo. É a base da horchata, água de arroz com canela que pode ser misturada com hibisco, coco ou o que mais a criatividade mexicana inventar.
Puebla renovada
Enquanto a gastronomia preserva suas tradições, Puebla não se priva de encarar uma série de transformações urbanísticas para acompanhar os tempos modernos. Quem visita a cidade hoje encontra uma série de obras grandiosas inauguradas recentemente. Entre elas destaca-se o belo Museu Internacional do Barroco, que de sisudo não tem nada. Foi desenhado pelo arquiteto japonês premiado com o Pritzker, Toyo Ito, que elaborou uma estrutura branca em formato de ondas para abrigar obras dos séculos 16 e 17, maquetes e projeções, tudo muito interativo, sob a curadoria de Fernando Checa, ex-diretor do Museu do Prado em Madri.
Para permitir que o visitante veja suas belas torres das igrejas do alto, Puebla lançou ainda um teleférico com duas estações: uma no Centro de Exposições e outra no Parque Paseo del Teleferico. E ainda tem a Estrella de Puebla, enorme roda-gigante. Enquanto isso, no centro antigo da cidade, surgiu uma curiosa atração com gostinho de antigamente: túneis dos séculos 17, 18 e 19 que faziam a comunicação subterrânea entre as quase 70 igrejas da cidade.
As escavações começaram há alguns anos, e hoje sabe-se de cerca de 4 km desses labirintos ocultos sob as ruas da cidade. E o melhor de tudo é que há um trecho que pode ser visitado pelos turistas.
Pirâmides ancestrais
Nos arredores de Puebla, rumo à Cidade do México, vale a pena fazer um desvio de 13 km para chegar a Cholula. Afinal, ali está a pirâmide mais larga já construída em todo mundo, a de Tepanapa, com mais volume até do que a de Quéops, no Egito. Foi erguida pelos cholultecas, civilização pré-colombiana que chegou à região cerca de dois mil anos antes dos espanhóis.
A pirâmide, feita de adobe (barro prensado), tem tamanho impressionante: 65 metros de altura e 439 metros de base. Levou seis séculos para ser finalizada, por volta de 600 d.C. Quando os espanhóis, finalmente, chegaram ao interior do México, em 1521, os cholultecas já haviam abandonado a área, e a obra, erodida e coberta pela vegetação, parecia apenas um morro qualquer.
Os europeus então aproveitaram a elevação para erguer no topo o Santuário da Virgem dos Remédios, igreja que hoje oferece ao visitante um visual de 360 graus da cidade. Da pirâmide dos cholultecas, porém, não ficou só história. Desde a década de 1930, arqueólogos trabalham nas pesquisas do templo e escavaram mais de 8 km de túneis, em vários níveis. Uma parte deles pode ser percorrida pelos turistas.
O caminho entre Puebla e a Cidade do México reserva ainda mais uma impressionante zona arqueológica: Teotihuacán, a 50 km da capital mexicana. Construída por volta do ano 100 d.C., por um povo pré-asteca, foi uma das maiores do período pré-hispânico.
Atualizada em: 21/11/2024