Lagoas, dunas e outras maravilhas naturais de Jericoacoara

Adobe Stock: Praia Jericoacoara – Newton

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Confira os passeios que podem ser feitos por quem usa a vila cearense como base Do alto da Duna do Pôr do Sol, uma das maiores atrações de Jericoacoara, veem-se… dunas. E depois dessas, outras mais. Um emaranhado de montanhas de areia que dá a dimensão de quão afastado da civilização está a região o que justifica os anos de isolamento da vila e, acima de tudo, abre um convite para explorar os arredores.
As lagoas Azul e Paraíso parecem até miragem nesse areal sem fim. Dois lados de uma mesma lagoa que forma um número 8, elas guardam quilômetros de praias de areia branca feito açúcar e água da cor que seus nomes sugerem. Nesse Caribe do agreste, a 8 km da vila de Jeri, a única obrigação do viajante é assistir ao dia passar do conforto de redes instaladas dentro d’água. De preferência, com intervalos para vasculhar o cardápio oferecido pelos quiosques pé na areia.

Adobe Stock: Lagoa do paraíso, Jericoacoara – Pedro
Inúmeros restaurantes sucedem nas margens da lagoa, embora os mais interessados no silêncio do que na comida facilmente encontrem praias vazias. Cada estabelecimento mantém o próprio “redário aquático”, e os cardápios, em geral, são abastecidos por pratos à base de frutos do mar. A Lagoa da Torta bem que tenta, mas parece francamente sem graça depois de uma manhã em banho-maria na imensidão azul-turquesa de suas concorrentes.
E, mesmo assim, é parada obrigatória para qualquer um que se hospede em Jericoacoara e arredores. Isso porque os 30 km que separam a vila da lagoa cinzenta e cercada de redários são uma sequência de paisagens de beleza árida. Praias habitadas por jegues, carcarás e ninguém mais, areais onde só carnaúbas solitárias resistem ao sol inclemente e dunas moldadas pelo vento compõem o cenário. A Lagoa da Torta, logo fica claro, é apenas a última parada de um tour em que o ponto alto é justamente a estrada.

Adobe Stock: Jericoacoara – Fernanda
Off-road à beira-mar
O percurso que termina na Lagoa da Torta é feito naquilo que é, em termos, uma estrada: o trajeto até lá acompanha os contornos do litoral cearense ora pelas praias, ora pelas dunas. Assim, o caminho é delimitado pelas marcas de pneus deixadas por outros veículos, pelo bom senso do motorista e pelo sobe e desce das águas, que às vezes engole a pretensa pista. No litoral cearense, onde se fala da tábua de marés com a mesma intimidade com que se discute o clima do dia, é o nível do mar que dita o momento da partida.
Só quando o mar recua é que bugues, jipes e quadriciclos dão a largada. Com Jericoacoara, ficam para trás o sinal de celular e o burburinho de visitantes. Desaparecem também os ambulantes e guias à caça de clientes. A meros cem metros além da vila, a praia, apenas ela, domina a paisagem. Carcaças de barcos de pesca se desmontam ao sol, jegues pastam alheios ao calor e hora ou outra uma prancha de windsurfe desliza sobre o mar ou um kitesurfista ganha o céu.

Adobe Stock: Passeio de Quadriciclo em Jericoacoara – Heberson

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Tatajuba
O caminho deixa para trás Mangue Seco e Guriú, vilas que colhem as benesses do turismo de Jeri com barracas de artesanato e vendinhas de bebidas. Com uma curva rumo ao interior, o 4×4 chega à Vila Velha de Tatajuba. Ou ao que sobrou dela: a comunidade foi enterrada pelas dunas nos anos de 1980. Dali é um pulo até Nova Tatajuba, o local para onde foram transferidos os desalojados. Em seguida, é a adrenalina que tem vez, já que, na Duna do Funil, é feita uma parada para os viajantes praticarem esquibunda duna abaixo ou admirarem, outra vez mais, aqueles castelos de areia sem-fim movendo-se com o vento.
Em qualquer situação, o saldo é mais ou menos o mesmo: areia no cabelo, no rosto, dentro da boca, nas roupas. É tanta areia que, quando o jipe finalmente estaciona à beira da Lagoa da Torta, é tamanha a alegria de cair na água e aproveitar o “cardápio vivo” – peixes frescos levados à mesa para serem escolhidos – que o tom acinzentado da lagoa acaba não importando muito.

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Adobe Stock: Lagoa de Tatajuba – Kseniya Ragozina
Quase Piauí
As Tatajubas, a velha e a nova, não pertencem a Jericoacoara, mas a Camocim, embora o centro do município esteja 80 km adiante, a caminho do Piauí. Com 60 mil habitantes, Camocim tem status de cidade grande no oeste cearense, mas as casinhas coloridas debruçadas ao longo do Rio Coreaú, os barcos de pesca atracados na orla e as pracinhas que viram mesa de carteado e de bar à noite apresentam um lugar com ritmo interiorano.
Os hotéis abandonados e um parque lacrado nos arredores do centro são sintomas de um turismo que ainda não emplacou. Melhor para as praias da região: lindas, vazias e imersas em uma espécie de baixa temporada infinita.
Explorar essa vizinhança que parece não ter consciência da própria beleza ganha uma dose extra de apreciação pelo perrengue que é enfrentar o trajeto acidentado, o qual exige um 4×4 pilotado por alguém que seja uma mistura de motorista, guia e anjo da guarda, capaz de lidar com atoleiros, caminhos engolidos pelas dunas e estradinhas precárias. O percurso parece trabalhoso, e é.
Por isso, nada mais compreensível do que as praias que sucedem até o estado vizinho serem vazias. É preciso merecer para ser recompensado com a beleza do vilarejo de Maceió, por exemplo, o primeiro que dá as caras após Camocim, com casinhas de paredes tortas, levantadas sem muita cerimônia diretamente sobre a areia. Vale a mesma regra para esticar a canga na vizinha Xavier, onde a simplicidade das construções de pau a pique não combina com o
parque eólico instalado na ponta da praia.
Depois do desvio fora do script entre as turbinas da usina eólica, o asfalto aparece à frente do carro. São 30 km de saudade do mar até que a estrada pavimentada desemboque na praia. De um lado, surge então Curimãs, uma fileira de casinhas avarandadas, escondidas pelas copas de árvores frondosas. Do outro, Bitupitá, com seus casarões sem reboque e barracões de sapé, onde as dunas e a vegetação retorcida da caatinga dominam a paisagem. Na ponta da praia, o Pontal das Almas, trecho em que o Rio Timonha deságua no mar, quebra essa aridez e desenha a divisa com o Piauí.
Na modesta região, jangadas colorem o mar ao amanhecer. Pescadores apressados chegam a todo o momento com carrinhos de mão carregados de sardinha. Nas casas simples à beira da praia, as mulheres servem a peixada frita com farinha e baião de dois.

Adobe Stock: Jericoacoara, CE – Andre
Atualizada em: 12/07/2024