Diversão ou sossego? Em Jeri, você tem o melhor dos dois mundos – Voupranos

Diversão ou sossego? Em Jeri, você tem o melhor dos dois mundos

Adobe Stock: Jericoacoara, CE – lcrribeiro33

Adobe Stock: Buraco Azul, Jericoacoara, CE – EbersonTheodoro

As jangadas não colorem mais o mar ao amanhecer. Elas foram aposentadas por pescadores que agora andam de moto e são donos de pousadas. A energia elétrica chegou 15 anos atrás, e mesmo internet e sinal de celular tornaram-se banais. Nem o começo de uma conversa ou de uma tentativa de cantada escapou às mudanças: buon giorno, bonjour (bom dia em italiano e francês, respectivamente) ou hello antecedem a versão em português, mesmo que o interlocutor seja brasileiro. Mudanças e modernidades à parte, os moradores de Jericoacoara, no litoral cearense, são categóricos: o lugar, a 310 km de Fortaleza, ainda é uma vila pacata e pitoresca, sim, senhor, mas agora, repleta de atrações.

Pode não ser mais o típico vilarejo nordestino de pescadores dos anos de 1980, um lugar sem dinheiro, porque tudo era na base da troca, e sem saída, porque atravessar o mar bravo em barco sem motor não é coisa pouca, como recordam os nativos mais antigos. Água quente, luz, carro, telefone e TV, comodidades habituais na maioria das cidades há algum tempo, só há pouco começaram efetivamente a fazer parte do dia a dia de Jeri.

Desse passado simplório, quando o turismo local praticamente se resumia aos hippies – ou a quem mais topasse viajar de barco ou no lombo de um cavalo para dormir em redes na casa de nativos, em troca de uma muda de roupa ou de uma lata de leite –, Jericoacoara cultivou apenas o melhor, principalmente o jeitão de vila. Como um prolongamento das dunas que mantiveram a região isolada por tantos anos, todas as ruas da vizinhança são de areia fofa. Entenda-se por “todas” três vias principais, onde carros não entram e as construções são rústicas e baixinhas, o que mantém a praia o tempo todo à vista.

Fachadas de pau a pique, paredes de tijolo e estruturas de tronco de carnaúba dão o tom por ali. Nessas graciosas casinhas, pode-se atacar barcas de sushi generosas ou tapiocas de carne-seca com abóbora nos restaurantes. E o melhor de tudo é que eles ficam, no máximo, cinco minutos de você: em Jeri, nenhum estabelecimento (pousada, hotel, loja, bar…) fica longe desse centrinho, e todas as distâncias se traduzem em uma caminhada agradável, geralmente com a vista para o mar.

Os rostos que rapidamente se tornam familiares são outro sintoma do tamanho reduzido da vila. Aqui e lá, é automático rever a pessoa que a tirou para dançar no forró ou reconhecer alguém que estava no mesmo voo em que você chegou a Fortaleza. E bastam dois dias para tornar-se escolado em identificar nativos e estrangeiros, incluindo a vasta comitiva de europeus que um dia vieram passar férias no Ceará e nunca mais voltaram para casa.

Adobe Stock: Lagoa do Paraíso – Jericoacoara, CE – Washington

Adobe Stock: Jericoacoara, CE – Andre

Sossego

As comodidades urbanas caíram bem à vila, mas não domaram o ritmo próprio de Jeri. À noite, as baladas abrem entre nenhuma e cinco vezes por semana conforme uma equação delicada, que obedece ao volume de turistas e ao humor dos proprietários. É preciso esperar escurecer para saber se é dia de forró ou de cair no samba. Com sorte, dá para fazer tudo isso na mesma noite, com bem-vindas escalas nas barraquinhas de bebida enfileiradas à beira da praia, que servem caipirinhas de cachaça bem baratinhas.

À tarde, são as ruas desertas do centrinho que lembram os viajantes do pique praiano da região: a sesta é quase um patrimônio local, e, diante do sol e do calor de rachar, algumas lojinhas não abrem as portas antes do anoitecer. Enquanto o comércio está adormecido, os turistas aproveitam a praia ladeada por coqueiros em frente à vila, não importa se das espreguiçadeiras acolchoadas dos hotéis pé na areia, debaixo do guarda-sol à beira-mar, sobre uma prancha de windsurfe ou a bordo de um veleiro.

A variedade de rostos e tipos que vai e vem pela praia combina mesmo com o clima hippie-chique-globalizado que impera em Jeri, o qual abraça mochileiros, velejadores, peruas endinheiradas e nativos, numa movimentação constante.

Adobe Stock: Redes nas praias de Jericoacoara, CE – Kseniya Ragozina

Adobe Stock: Por do sol em Jericoacoara, Ce – Luiza

Diversão

A tranquilidade absoluta, porém, é desfrutada por quem caminha (veleja, “windsurfa”, nada…) para além das pedras, até encontrar a Praia da Malhada. Sem hotéis, restaurantes ou gente, a faixa de areia é pontuada por= grandes rochedos cor de tijolo, que represam a água do mar e formam um mosaico de pequenas piscinas naturais. Pena que a maioria dos visitantes apenas passa pela Malhada rapidamente. É que, quando a maré baixa, essa região transforma-se no caminho para a Pedra Furada, rochedo em forma de arco que é o cartão-postal número 1 de Jericoacoara.

Da vila, a caminhada até lá leva meia hora, e o passo rápido é necessário para aproveitar os intervalos em que o mar recua. Mas o tempo para explorar praias e ver rochedos é contado: diariamente, assim que a tarde começa a cair, todos, tanto visitantes como moradores, têm um compromisso inadiável: subir ao topo da Duna do Pôr do Sol. A pirâmide de areia, fincada na ponta da vila, é o lugar que marca o fim de cada dia. Uma pequena multidão faz todos os dias o caminho rumo à formação, o camarote perfeito para assistir ao sol mergulhar entre as nuvens.

Adobe Stock: Passeio de quadriciclo em Jericoacoara, CE -Heberson

Adobe Stock: Jericoacoara, CE – Andreas

Publicado em: 14/02/2024
Atualizada em: 14/02/2024
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