Cracóvia surpreende viajante com lindas paisagens
A cidade motivo de orgulho para os poloneses e com mais atrações turísticas não é Varsóvia, a capital mas a Cracóvia, onde João Paulo II começou o sacerdócio. Linda, ela é atravessada por um rio, o Vístula, que se esparrama sob um castelo. A Cracóvia é tão charmosa que foi poupada da destruição pelos nazistas na Segunda Guerra, diferentemente de Varsóvia, que foi devastada. A capital polonesa hoje tem edifícios modernos, o Castelo Real e um centro histórico que vale a pena visitar, todo reconstruído e com uma imensa praça cercada de restaurantes.
Todas as ruazinhas, cheias de lojas de roupas e de suvenires, com muitos pubs e bares, levam ao pedaço principal da cidade: a Praça do Mercado, no centro histórico, chamado de Stare Miasto. Com 40 mil m2, ela é a maior praça medieval da Europa e, quadrada, concentra em cada canto uma atração. O burburinho dos visitantes, rodando para lá e para cá – e conversando nos bares da praça com copos da cerveja típica polonesa Zyrtec ou da vodca Zubrówka na mão – só é interrompido com a melodia do trompetista que toca nas horas cheias do alto da Igreja Gótica Santa Maria, também na praça.
O som é tradição desde o século 13, quando um guarda trompetista que vigiava a cidade soprou o instrumento para avisar o povo da invasão dos tártaros. No entanto, mesmo assim, ele foi atingido por uma flecha e, por isso, a melodia que embala Cracóvia a cada hora é interrompida subitamente como forma de homenagear o guardião.
A Santa Maria, de onde se ouve a música, é daquelas igrejas em que todos que entram soltam “ós” e “uaus”, boquiabertos. Na igreja feita para o povo, o melhor jeito de apreciá-la é fazer como os mais pobres, que deveriam ficar afastados do altar. Só assim para enxergar a imensidão de vitrais que a decoram de cima a baixo.
Em frente a ela, no meio da praça, estão uma torre medieval com um imenso relógio – simplesmente a antiga prefeitura – e o mercado, que dá nome à região. Como nos séculos passados, quando lá eram vendidos sal e âmbar, encontram-se hoje os mais variados colares e brincos de âmbar, além de miniaturas e colares de madeira, jogos de xadrez ornamentados e artigos com pele. Explore o centro histórico todo batendo muita perna. Ele é pequeno e reserva algumas surpresas, como a Universidade Jagiellonski, a quinta mais antiga da Europa, construída em 1364, cerca de cem anos antes do descobrimento da América por Colombo.
Fortaleza Wawel
Saindo de lá, não deixe de reservar um bom tempo para a Fortaleza Wawel, a principal atração da cidade. Como muitos dos castelos no Leste Europeu, é um complexo que reúne o palácio real, a catedral e um museu. O palácio foi residência dos reis poloneses desde o ano 1000 e exibe uma bela coleção de tapeçarias nos gabinetes reais. Grande parte dos objetos do castelo não é original da monarquia polonesa, já que na trágica história do país, muito foi roubado pelos austríacos.
A catedral, esta dedicada aos monarcas e cardeais, é outro ponto alto da cidade, com tapetes, vitrais e quadros do século 16. Rodar pela fortaleza é um passeio pela história da Polônia, do cristianismo e da arte, com várias tumbas de reis e santos, além de decoração de vários estilos e períodos. Foi lá que, em 1947, o então padre Karol Wojtyla celebrou sua primeira missa, antes de tornar-se cardeal de Cracóvia e papa.
João Paulo II
Karol Wojtyla é um símbolo na Polônia e amado pelos poloneses, não só por ter sido papa, mas por representar a luta contra o comunismo. Foi escolhido papa em 1978, em pleno regime da Cortina de Ferro, quando era proibido o exercício da religião no país. Os poloneses o viam como um protetor externo e como alguém que nunca os abandonaria. Por isso, a imagem de Wojtyla é lembrada e venerada emtoda a Polônia, mas em Cracóvia ela ganha outra dimensão, seja em lembrancinhas vendidas na cidade, nas estátuas de homenagem a ele ou nas fotos em igrejas.
Quem quer ir mais fundo na história do papa deve visitar Wadowice, a 60 km de Cracóvia, cidade onde ele nasceu e viveu até os 16 anos. Lá, dá para conhecer a igreja onde ele foi batizado e um museu com pertences de sua vida, como documentos escolares, roupas que usava antes de ser papa, um par de esquis e fotos em momentos espontâneos, como o jovem Karol Wojtyla de bermuda em um barco.
Auschwitz
Se Karol Wojtyla é motivo de visitas e adoração na Polônia, a destruição da comunidade judaica no país pelas forças nazistas hoje é atração turística. O distrito Kazimierz, habitado pelos judeus desde o século 14, é uma delas. Locação de A Lista de Schindler, de Steven Spielberg, o bairro já foi um efervescente centro de cultura judaica. Está lá a fábrica do empresário Oskar Schindler, que salvou 1.200 judeus dos campos de concentração, hoje um completo museu.
Para completar a incursão pela história judaica, há ainda os tours para os campos de concentração Auschwitz-Birkenau, a cerca de 60 km de Cracóvia. O primeiro campo do complexo, Auschwitz I, aquele com a famosa placa Arbeit macht frei (“O trabalho liberta”) e prédios de tijolos, é onde ficavam os prisioneiros polononeses, soviéticos e os oficiais. Birkenau, 3 km adiante, chamado de Auschwitz II, era o imenso campo de xtermínio, com os galpões onde ocorriam as etapas da matança em série. O passeio pesado toca cada um a sua maneira ao exibir provas do massacre de judeus na Segunda Guerra Mundial.
Cenário de sal
As cidades do leste têm paisagens muito parecidas entre si, com o rio, o castelo e as vielinhas. Mas antes de você achar que já viu tudo, Wieliczka, a 14 quilômetros de Cracóvia, apresenta um cenário muito diferente: uma mina de sal do século 13, com salões e corredores cheios de esculturas de sal feitas pelos mineiros. Estão lá desde figuras religiosas e reis até estátuas de seres fantásticos, como gnomos. Por isso, não é à toa que o lugar está na lista de Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Atualizada em: 03/04/2024