Corfu, a joia esmeralda do mar Jônico – Voupranos

Corfu, a joia esmeralda do mar Jônico

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Poucas ilhas foram marcadas por histórias tão antagônicas quanto o amor e a guerra. Diz a lenda que Poseidon, o deus dos mares, apaixonou-se pela ninfa Korkyra e a sequestrou, levando-a para uma belíssima ilha ainda desconhecida. Ali, radiante de felicidade, teria dado à terra o nome da amada, que com o tempo sofreu uma variação para Kérkyra, a tradução grega de Corfu, hoje um lugar com muito o que fazer.

É fato, porém, que a lenda de amor e a proteção de Poseidon não foram suficientes para livrar a região de sucessivas guerras e ataques pelos quais passou ao longo dos séculos. Mas a ilha também foi imortalizada pela escrita de diversos autores, que registraram em obras geniais o encanto por suas paisagens.

Foi Corfu a última parada de Odisseu, herói da Odisseia de Homero, antes de seu retorno ao lar, em Ítaca. Alguns séculos mais tarde, Shakespeare usou a ilha como cenário para o ato final da peça A Tempestade. Lord Byron e Gerald Durrell foram outros que sucumbiram aos en­cantos locais.

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Adobe Stock: Corfu, Grécia – Milosducati

Ilha verde

Como toda ninfa grega, Corfu está mesmo à altura de ser uma musa inspiradora, já que, além de segunda maior ilha do Mar Jônico, é a mais verde da Grécia. A cor está não só no mar, mas na densa vegetação que recobre a ilha, adornada de ciprestes, laranjais e oliveiras. Um passeio ideal consiste em aventurar-se por três cenários: o verde – que faz o lugar ser conhecido como Ilha de Esmeralda –, o das praias e o da cidade, a 3 km do aeroporto e caminho obrigatório para quem vem do porto.

Por ter sido invadida várias vezes ao longo de 2 mil anos de história, a cidade ostenta vestígios romanos, venezianos, franceses, turcos, alemães e ingleses, impressos nos detalhes de várias construções, em especial as do centro. Um passeio gostoso é perder-se pelas vielas, procurando essas referências arquitetônicas nos locais que abrigam tabernas muito antigas, cafés moderninhos, restaurantes charmosos e lojas idem, compondo uma atmosfera cosmopolita.

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A presença de dois fortes – Velha e Nova Fortaleza, dotadas de labirintos e túneis – denuncia a importância militar e estratégica da ilha ao longo dos séculos. Da Velha Fortaleza, erguida no século 16, tem-se uma visão de todo o lado leste da ilha.

Na Nova, é possível conferir a história militar de Corfu, especialmente na Segunda Guerra, quando serviu de abrigo para os moradores. Entre uma e outra, aproveite para conhecer também a igreja barroca de São Espiridião.

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Adobe Stock: Nova Fortaleza de Corfu, Grécia – Pavel Jiranek

Palácio de Aquiles

Durante a tarde, uma boa dica é seguir para o Palácio Achilleion, situado 10 km ao sul da cidade, que equilibra em boas doses as referências à arte, às paisagens e às guerras travadas na vizinhança. A construção, erguida a mando da imperatriz austríaca Sissi e por ela usada no verão de 1890, foi
inspirada em Aquiles, herói da mitologia grega cuja história encantava a soberana.

Reserve um tempo para apreciar o palácio por dentro e, principalmente, por fora: o jardim preserva o ar bucólico das clássicas construções gregas, onde estátuas de nove musas “observam” a vista emoldurada pelo mar e pelo conjunto de ciprestes e eucaliptos.

Em destaque nessa área verde, uma estátua agonizante mostra o herói no  momento de sua morte, com o calcanhar perfurado pela lança de Páris, enquanto outra, encomendada pelo kaiser William II (1859-1941), exibe um Aquiles glorioso, de pé, como que guardando a vista da cidade. No interior da construção, os salões guardam pinturas impressionantes que retratam a Guerra de Troia e são testemunhas da importância de um palácio que já abrigou reuniões diplomáticas e foi hospital durante a Segunda Guerra e escritório militar. Até chegar ao museu que é nos dias de hoje, o casarão já foi até um cassino, visitado pelo agente 007 interpretado por Roger Moore no filme Somente para seus Olhos.

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Adobe Stock: Jardim do Palácio de Aquiles, Corfu – CCat82

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Praias

E chega de história. Porque como toda joia grega, Corfu também ostenta entre seus pontos altos praias que estão entre as mais bonitas do país. Presenteie-se com meio dia – ou um dia to­do, se tiver tempo – de sol e papo para o ar na Praia de Paleokastritsa, a 25 km da cidade, cujas águas calmas e cristalinas são um convite aos esportes aquáticos.

A obra Odisseia, de Homero, dá a entender que é justamente em Paleokastritsa o último ponto em que o herói Ulisses desembarca antes de chegar a Ítaca, já que uma das montanhas que surgem escarpadas no mar – a qual seria seu navio, petrificado após o naufrágio – remeteria às formações rochosas encontradas nas redondezas. A hospitalidade grega, perfeitamente exaltada nesse trecho do clássico livro, resiste até hoje nos simpáticos restaurantes e pequenos bares que embalam os intervalos entre mar e sol feitos pelos turistas de hoje.

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Sidari 

Quem dispõe de mais dias na ilha deve também conhecer Sidari, ao norte de Corfu. Lendas e águas cristalinas também dão o tom desta região, em especial no Canal do Amor. A poesia do nome se origina – e transcende – da beleza de uma formação natural: paredões rochosos erodidos pelas águas, cujas paredes amareladas parecem “abraçar” o Mar Jônico, desenham um recanto único e, como não podia deixar de ser, carregado de lendas.

O panorama idílico só fez aumentar as histórias em torno da praia ladeada pelos imponentes paredões. Uma diz que quem nada nessas águas terá sorte no amor. Se o mergulho for acompanhado, melhor ainda: a promessa é que o casal ficará junto para o resto da vida.

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Adobe Stock: Sidari, Corfu – Zbynek Jirousek

Verdade ou não, o fato é que os gregos são excelentes contadores de “causos”. E mesmo sem comprovação dos “poderes mágicos” do canal, a história é bastante sugestiva para os turistas que frequentam o local, seja em busca de um grande amor ou – o mais garantido – de uma belíssima praia. A lenda vira, então, um pretexto para uma troca de palavras, uma boa conversa e, se tudo der certo, um convite para um bar mais tarde.

Muito do “tempero” de Corfu está na capacidade que a ilha teve de se reinventar depois de tantas guerras e conquistas ao longo de séculos. E por continuar assim, verde, bucólica e apaixonante, depois de tantas
intempéries, é normal que o visitante queira que tal espírito se estenda para sempre em toda a Grécia.

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Adobe Stock: Canal do Amor, Corfu – Ljupco Smokovski

Publicado em: 26/07/2023
Atualizada em: 26/07/2023
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