Como é o Círio de Nazaré, em Belém – Voupranos

Como é o Círio de Nazaré, em Belém

Adobe Stock: Círio de Nazaré, Pará – Brarymi

A maior festa católica do Brasil é também uma das mais reverenciadas do mundo. Trata-se da celebração do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, popularmente chamada de Círio de Nazaré, que reúne cerca de dois milhões de fiéis todos os anos na cidade de Belém, capital do Estado do Pará. A grandiosa homenagem dos paraenses – que também atrai brasileiros de outras regiões e muitos estrangeiros – à mãe de Jesus Cristo começou a ser realizada há mais de 200 anos, quando o Brasil ainda era Colônia de Portugal e a região, a Província do Pará. A primeira romaria na cidade data de 8 de setembro de 1793, um ano após o Vaticano ter autorizado a celebração à Virgem na província.

Adobe Stock: Círio de Nazaré, Belém do Pará – Marcelo

No início, o Círio de Nazaré não tinha data fixa e podia ocorrer em setembro, outubro ou novembro. Em 1901, por determinação do bispo dom Francisco do Rêgo Maia, a homenagem à santa passou a ser realizada no segundo domingo de outubro. A expressão “Círio” tem origem na palavra latina “cereus”, que significa vela ou tocha grande. Em Portugal, a vela era o principal símbolo de oferta e homenagem dos fiéis aos santos da Igreja Católica. Com o tempo, passou a simbolizar a procissão de Nazaré em Belém e em outras cidades do interior do Pará.

No domingo do Círio, o percurso dos fiéis para acompanhar a imagem da Virgem parte da Catedral Metropolitana de Belém, a Sé, após a celebração de uma missa, e segue pelas ruas da cidade até a Praça Santuário de Nazaré, onde está a Basílica da santa. Lá, a imagem fica exposta ao público durante 15 dias, no período conhecido como “quadra nazarena”. O trajeto tem extensão de 3,6 km e já chegou a ser percorrido em nove horas e quinze minutos – tempo mais longo calculado na história do Círio.

Adobe Stock: Barcos na Baía do Guajará – Brarymi

A corda

Uma das demonstrações de fé mais impressionantes da enorme romaria é uma gigantesca corda amarrada à berlinda em que se encontra a santa, carregada pelos fiéis ao longo da procissão. Milhares de pessoas se espremem para conseguir colocar a mão na corda e seguir o trajeto até o ponto final.

O simbolismo desse gesto, que culmina com pessoas exaustas sob o forte calor da região e muitas vezes com mãos e pés machucados ao fim do percurso, expressa um dos pontos altos da religiosidade das pessoas que estão ali para agradecer à santa por alguma graça concedida ou apenas demonstrar a adoração.

Adobe Stock: Mãos de pessoas segurando faca e cortando uma corda – Rafael

A devoção à Virgem no Pará, segundo conta a história, começou em 1700, quando o caboclo Plácido José de Souza teria encontrado uma imagem da Senhora de Nazaré às margens do igarapé Murutucú, onde hoje está o Santuário de Nazaré. Ao encontrá-la, Plácido teria levado a imagem para casa. No dia seguinte, porém, a santa teria desaparecido. O cabloco, então, voltou ao lugar onde a tinha encontrado e a achou novamente. O fato misterioso teria se repetido outras vezes até que a imagem foi levada ao Palácio do Governo. No igarapé, Plácido acabou construindo uma pequena capela em homenagem à Virgem.

Ao longo dos anos, a festa de Nazaré se expandiu para outros municípios paraenses agregando novas romarias e peregrinações. Na sexta-feira que antecede o domingo do Círio, a imagem é levada da capital para os municípios de Ananindeua e Marituba, em um percurso de 48,5 km, conhecido como “Traslado para Ananindeua”. Na manhã seguinte, sábado, a imagem da Virgem é conduzida para o distrito de Icoaraci, no trajeto denominado “Romaria Rodoviária”.

Adobe Stock: Basílica de Nazaré – Andre ojr

Círio das Águas

Em Icoaraci, começa um dos trechos mais bonitos da homenagem à Senhora de Nazaré, o “Círio das Águas”, também chamado de Romaria Fluvial ou Círio Fluvial. A imagem da Virgem é conduzida em barco pela Baía do Guajará até a Escadinha do Cais do Porto de Belém, em uma belíssima e grandiosa romaria pelas águas que banham a capital paraense.

O primeiro Círio das Águas ocorreu em 1986 e foi acompanhado por cerca de 30 embarcações. Hoje, centenas de barcos prestam homenagem à Virgem durante romaria fluvial. A última etapa anterior à maior das procissões é chamada de “Trasladação” e acontece na noite do sábado que antecede o Círio de Nazaré. Milhares de fiéis, carregando velas acesas, fazem o trajeto contrário ao percurso do domingo, com destino à Catedral da Sé.

Adobe Stock: Barcos na Baía do Guajará, Brarymi

É justamente na peregrinação noturna que a origem do termo “Círio” ganha a tradução mais literal e bonita de se ver, quando as velas dos devotos ajudam a iluminar as ruas de Belém. Na procissão de sábado à noite, os fiéis também disputam um espaço para segurar a corda atrelada à berlinda que conduz a imagem da Virgem.

Adobe Stock: Baía do Guajará – Brarymi

 

Curiosidades

Uma das curiosidades do Círio é a Guarda de Nossa Senhora de Nazaré, criada em 1974 e composta somente por homens com mais de 18 anos. Considerada a primeira “guarda” católica do Brasil, o “batalhão” reúne cerca de 1.200 voluntários, responsáveis por cuidar da berlinda em que a imagem fica exposta e por ajudar na organização das procissões nazarenas e de outras festividades ao longo do ano.

Adobe Stock: Basílica de Nossa Senhora de Nazaré – Brarymi

Quando não há celebrações, os membros da guarda cuidam da parte interna da Basílica e de suas adjacências, na praça do santuário. Outra particularidade da devoção dos paraenses à mãe de Jesus Cristo é que a imagem da santa, ao chegar ao Cais do Porto de Belém, após a romaria fluvial de sábado, é recebida com honrarias de Chefe de Estado.

Em 1971, uma lei estadual transformou a Virgem de Nazaré em padroeira do Pará e rainha da Amazônia. Em 2004, O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registrou o Círio de Nazaré como Patrimônio Cultural da Natureza Imaterial.

Adobe Stock: Rosários – Brarymi

 

Publicado em: 26/11/2024
Atualizada em: 21/11/2024
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