Como curtir o melhor de Ilhabela sem perrengue
Não é apenas durante as competições de vela que os bons ventos sopram em Ilhabela. Com natureza preservada e muitos quês de sofisticação, esse cantinho do Litoral Norte paulista, situado a 213 km da capital, esbanja charme em suas 42 praias cercadas de Mata Atlântica, com atrações como cachoeiras, naufrágios, restaurantes de primeira e eventos que atraem visitantes o ano todo, faça frio ou calor. Há tanto o que fazer por lá que vale a pena planejar a viagem com cuidado para evitar perrengues.
No verão, por exemplo, o clima de badalação se concentra especialmente nos beach clubs, que ficam abarrotados de gente bonita ao entardecer, assim como nas praias do Curral e do Saco da Capela e nos barzinhos da Vila, onde sempre rola um som de pop rock ou MPB ao vivo noite adentro. No resto do ano, festivais como o de jazz, do camarão e a Semana Internacional de Vela, entre julho e agosto, se encarregam de manter a movimentação lá em cima, reunindo desde velejadores, amantes da boa mesa e mergulhadores de carteirinha até aqueles que sabem bem aproveitar qualquer forma de expressão artística para justificar um fim de semana à beira-mar, mesmo durante o inverno.
Como chegar
O trajeto de balsa desde São Sebastião dura meros 20 minutos, mas pode ter filas quilométricas no verão ou em feriados prolongados. Para quem não quer ficar duas ou mais horas esperando para embarcar, a alternativa é
agendar a travessia. Passado o percurso, é hora de caprichar no repelente para espantar os borrachudos que ainda insistem em dar o ar da graça por lá e explorar o que Ilhabela tem de melhor. Passeios de escuna, jipe, lancha e van pelos quatro cantos da ilha fazem parte do pacote.
Também é possível pegar ônibus ou seguir de carro pelos 29 km da pista à beira-mar, que contorna todo o lado da ilha virado para o Canal de São Sebastião, desde Borrifos, no sul, até Ponta das Canas, no extremo norte. Ali, não faltam boas praias, como Feiticeira, Curral, Perequê e Saco da Capela, entre tantas outras.
Além de manter a vegetação intacta, a vantagem desse traçado urbanístico de formato alongado (há poucas casas, apenas duas avenidas e todo o burburinho se concentra no trecho de orla voltado para o continente) é que nenhuma pousada fica longe da praia. Basta caminhar um ou dois quarteirões para pisar em faixas de areia com mar calmo e cristalino, feito lagoa, um calçadão ou um bom restaurante ou quiosque à beira d’água.
Também não tem como se perder de carro, já que toda a via é bem sinalizada e de frente para o mar. Assim, você tem mais liberdade para conhecer Ilhabela em seu tempo e ir parando ao bel-prazer nas praias que lhe chamarem mais a atenção. Além disso, vale a pena ampliar o leque de atividades na ilha. Mergulhar por lá, por exemplo, é algo inesquecível e que surpreende muita gente.
Mergulho
As águas límpidas do litoral de Ilhabela escondem um cemitério de navios. Tanto lá quanto na vizinha Ubatuba, os piratas deixaram saborosas histórias na boca dos caiçaras, que carregam olhos azuis como herança e falam em tom de segredo sobre tesouros enterrados. São 18 grandes embarcações catalogadas, mas os moradores garantem haver mais de cem naufrágios no arquipélago, alguns com louças inglesas e objetos de valor. O mais famoso deles, o espanhol Príncipe das Astúrias, afundou em 1916, na Baía dos Castelhanos, com 590 marinheiros a bordo. Destes, 477 morreram. Os corpos, carregados pela maré, foram parar na praia.
Já Bonete foi a praia escolhida como morada pelo inglês Thomas Cavendish, um dos mais temidos piratas que já passaram pela costa brasileira. Ele incendiou Santos no Natal de 1591 e teria se refugiado em Ilhabela antes de ser enforcado pelos próprios marujos, que preferiram ficar na ilha a seguir com ele para outras aventuras. A história é tão contada na região que muita gente acredita que os caiçaras de cabelos loiros e olhos claros, comuns em Bonete, descendem desses tripulantes rebelados.
Outros destroços cobiçados pelos mergulhadores são os do navio inglês Dart (1884); do norte-americano Eliuhub Washburne (1943); do francês France (1906); do alemão Siegmund (1929) e do brasileiro Aymoré (1920). A explicação para tantos naufrágios seriam os muitos bancos de areia que circundam a ilha, apelidada de Triângulo das Bermudas da América do Sul. Além disso, como os portugueses que desembarcavam escravos em Castelhanos costumavam retornar a Portugal repletos de riquezas extraídas do solo brasileiro, os piratas faziam tocaia para roubar os navios e, se necessário, afundá-los.
Mas os mais místicos preferem a versão de que as bússolas, por questões sobrenaturais, se descontrolavam ao chegar perto do arquipélago. Lendas à parte, aproveite para mergulhar na Reserva Marinha da Ilha das Cabras, no lado sul de Ilhabela, para conferir as riquezas ecológicas do arquipélago e, por que não, fazer umas aulinhas na principal escola de mergulho local, conhecida nacionalmente por dar aulas também para deficientes visuais.
Outros esportes
E se você não pretende ir tão a fundo nas belezas do arquipélago, não se preocupe: Ilhabela também oferece recantos ideais para práticas de esportes náuticos, birdwatching (observação de pássaros), trekking e rapel em cachoeiras. Basta escolher a atividade que mais combina com o seu perfil e se munir de repelente para desbravar tudo antes que os borrachudos o descubram.
Atualizada em: 07/02/2024