Os encantos de Los Roques, o Caribe mais perto do Brasil
Nuvens preguiçosas, cardumes de peixes, um barquinho ou outro, a passarada e, de tempos em tempos, mergulhadores a nadar sem rumo com seus snorkels. Este é o cenário típico de Los Roques, um pequeno e prodigioso arquipélago venezuelano em pleno Caribe, cuja riqueza natural, que é repleta de atrações, foi declarada parque nacional em 1972. Lá, tudo é sol e mar. Muito sol. Mesmo com protetor fator 50, a pele se ressente.
Atravessar o povoado de Gran Roque e subir até o farol levantado em 1880 – e desativado por volta de 1950 – é passeio indispensável no final da tarde. A caminhada é leve e a vista, linda. Dá para ter perfeita noção de como a vila é pequena e bem organizada.
Ainda assim, as regras insulares, também conhecidas como regras da ilha, são rígidas. Nada de novas construções. Proibição total de resorts, cruzeiros marítimos e coisas massificadas do gênero. Carro ou moto nas ruazinhas? Nem pensar. Você pode andar descalço pela vila sem medo de pregos ou cacos de vidro: as ruas são de imaculada areia branca. Cada pousadinha cuida do próprio lixo e mantém limpa a “calçada”.
Não fossem os nomes nas fachadas – em geral pintados à mão – nem seria possível identificá-las. As pousadas foram instaladas em antigas casas de pescadores e a arquitetura mudou apenas por dentro, e olhe lá. O toque europeu fica por conta da pintura, decoração e, claro, do cardápio.
Com três ou quatro quartos despojados (em geral equipados apenas com ventilador e banheiro com chuveiro frio) e uma sala de convívio social, as pousadas quase sempre oferecem pensão completa: café da manhã caprichado, lanche na praia e jantar na sala ou na varanda, tudo com hora marcada e menu previamente definido.
Pufes coloridos dispostos na areia, lanternas japonesas, velas nas mesinhas e um clima de descontração chique dominam o final de tarde em Gran Roque. É verdade que cada drinque ou petisco vale seu peso em ouro, mas que graça teria a vida sem algumas extravagâncias?
Até porque, você não precisa bater ponto no pub todo dia, como fazem os europeus. Andar até o final da praia, sentar no píer e acompanhar o sol mergulhar no mar, enquanto grupos de pelicanos pescam sem pressa, é um baita programa. Se estiver bem acompanhado, melhor ainda, pois o cenário convida a romance.
Dependendo da ilha escolhida ou da época do ano, você finca o guarda-sol e conquista um quinhão de praia absolutamente deserta. Para alguns, deserta até demais. Em Crasquí e Francisquí, há dois ou três barzinhos na praia.
Nas outras ilhas de Los Roques, esqueça a ideia de pedir uma caipirinha ou chamar o vendedor de mate e biscoito de polvilho. Há, inclusive, a possibilidade de ancorar em um daqueles bancos de areia que parecem existir apenas no mundo da publicidade.
Fauna abundante
O formidável mundo marinho de Los Roques é repleto de recifes e corais, onde barracudas, caranguejos, estrelas-do-mar, lagostas e milhões de peixinhos convivem em paz. O arquipélago ainda acolhe diferentes espécies de pássaros migratórios e uma quantidade razoável de gaivotas barulhentas e divertidos pelicanos.
Essa fauna tão rica é especialmente protegida em centenas de ilhas e ilhotas, onde é proibido ancorar sem autorização do Imparques, o equivalente ao Ibama.
Um programa bacana é visitar, na ilha de Dos Mosquises, a Estação de Biologia Marinha, dirigida pela Fundação Científica Los Roques, que cuida de tartarugas ameaçadas de extinção. Ali você vê os filhotes sendo alimentados em tanques de água até completarem um ano, quando são entregues ao mar.
Outras ilhas
Se o seu tempo de estada for curto, fique com as ilhas mais próximas: Madrisquí, Cayo Pirata e Francisquí. A primeira oferece, na parte ocidental, uma praia deslumbrante, mas nada deserta. Há casas de veraneio, bar, restaurante e movimento de iates.
Cayo Pirata é habitada por pescadores e ligada a Madrisquí por um banco de areia, por onde se caminha tranquilamente com o mar na altura dos joelhos. Já em Francisquí você passa o dia numa piscina natural e fica horas viajando nas tonalidades de azul do mar.
Lagoa de coral
Caso tenha a sorte de poder ficar uma semana ao sol, conheça a Ensenada de los Corales, uma gigantesca “lagoa” de coral de 37 quilômetros de comprimento e 11 quilômetros de largura. Lá, o mar é sempre manso e as ondas apenas deslizam nas areias brancas feitas de puro coral. Esse espelho d’água é perfeito para mergulhar com snorkel. Boca de Cote também é recomendada para observar o mundo subaquático.
O fato é que o snorkel tem sua graça em todas as ilhas. Com um pouquinho de paciência e sorte, peixinhos coloridos simplesmente desfilam na sua frente. Dependendo do esquema, ainda é possível realizar um mergulho noturno e ver o peixe-papagaio dormindo na toca, moreias caçando e outras cenas típicas de um programa à la National Geographic.
Tem mais: em Gran Roque você pode alugar desde um catamarã até um iate. Aos adeptos do windsurfe e do kitesurfe, o vento forte e constante é combustível perfeito para deslizar sem esforço. Para curtir as ilhas por outro ângulo, nada como passear de ultraleve. Mas se o passeio ultrajar o bolso, lembre-se que a curta viagem entre Caracas e Los Roques já inclui uma vista panorâmica que, por si só, vale o bilhete.
Atualizada em: 12/07/2024