Campina Grande tem uma das festas de São João mais animadas do Brasil
Tem quadrilha sim, sinhô. E pau-de-sebo? Também, sim, sinhô. Junho é mês de pular a fogueira para celebrar três dos mais populares santos do País: São João, São Pedro e o casamenteiro Santo Antônio. Forró, brincadeiras, comidas típicas e irreverência não faltam entre as atrações disponíveis.
Em especial no Nordeste, onde os festejos juninos se estendem durante todo o mês, dia e noite. Como é de costume, Campina Grande, na Paraíba, a 135 km da capital João Pessoa, investe pesado em shows e irreverência. Dezenas de bandas munidas de sanfona, zabumba e triângulo sobem aos palcos do município, cujo arraiá atrai mais de 1 milhão de visitantes em junho. Um recorde de público que leva muito campinense a bater a mão no peito e dizer com orgulho: “É aqui o maior São João do planeta!”
Festa do povo
Os números fazem jus à falta de modéstia: só nos dias 23 e 24, o chamado Parque do Povo é invadido por cerca de 80 mil frequentadores, ávidos por conferir as quase 500 atrações do evento, entre trios de arrasta-pé, centenas de quadrilhas trajadas a caráter e uma fogueira de 18 metros de altura. Já o Sítio São João retrata o cotidiano do interior nordestino. O santo casamenteiro, Antônio, responde pela tradição dos casórios juninos.
Alguns são de mentirinha, ganhando o tom cômico de noivos fujões, padres que celebram a cerimônia sob o alvo de espingardas, homens vestidos de mulher e vice-versa. Mas em Campina Grande também ocorrem matrimônios de verdade. A cidade aproveita o São João para promover enlaces coletivos, de 100 casais, com direito a troca de alianças, registro civil e muita festa sob as bênçãos dos santos juninos. Afinal,a celebração de Santo Antonio é levada
a sério por lá.
Relação com os santos
A relação dos devotos com os santos do mês de junho, sobretudo com Santo Antonio, é bastante familiar e cheia de intimidade, constituindo uma das características mais interessantes do aspecto religioso nos costumes e tradições de um povo. Com um tom irreverente, e até mesmo debochado, as simpatias ao santo para arrumar casamento revelam a criatividade de cada um.
Moças solteiras de várias regiões do Brasil costumam colocar a imagem do santo casamenteiro de cabeça para baixo atrás da porta, ou enterrá-la até o pescoço, prometendo desfazer o “castigo” apenas quando o pedido for atendido. No dia 13 de junho, também é comum às igrejas distribuírem aos fiéis o “pãozinho de Santo Antonio”, que deve ser deixado junto aos alimentos para que sempre haja fartura na casa.
Nessa época, as quermesses com barracas de comida e brincadeiras tomam conta de Campina Grande. As festas enaltecem a vida do homem da roça, o matuto que usa chapéu de palha, que tem a calça cheia de remendos, e a mulher de vestido florido feito de chita.
Origem da festa junina
A raiz cristã das festas juninas se encontra antes do nascimento do primo de Jesus, batizado de João Batista, o qual se tornaria um dos santos mais importantes de Igreja Católica. Segundo contam as escrituras bíblicas, Isabel, grávida, teria ido visitar Maria e prometeu-lhe que avisaria sobre o nascimento de seu filho mandando acender uma grande fogueira e erguendo um mastro de madeira com um boneco na ponta.
No dia 24 de junho, quando o pequeno João veio ao mundo, Maria soube do acontecimento ao ver de longe a fumaça subindo, conforme Isabel havia prometido. A partir do século 6º, a cúpula de Roma passou a associar as celebrações de chegada do verão no Hemisfério Norte ao nascimento de João Batista, já convertido em São João, por ter ocorrido também no mês de junho. A festa, então, foi batizada de Joanina, tendo sido realizada primeiramente em países como Portugal, Espanha, Itália e França.
No século 13, os portugueses incluíram dois outros santos católicos nas comemorações joaninas: Santo Antonio, que teria nascido no dia 13, e São Pedro, cuja morte data de 29 de junho.
Cabaceiras
Depois de curtir muita festa junina em Campina Grande, é hora de rodar pelos arredores. O letreiro Roliúde Nordestina já revela a vocação de Cabaceiras (PB), a cerca de 1h20min de carro de Campina Grande, para as artes cênicas. Foi lá que rodaram os principais filmes nacionais ambientados no sertão, como Cinema, Aspirinas e Urubus, O Auto da Compadecida, São Jerônimo, Viva São João, O Romance de Tristão e Isolda, entre outros.
Histórias dos sets de filmagem destes e de outros longas-metragens gravados ali podem ser conferidas no memorial cinematográfico montado em um casarão do século 19 no centro do pequeno município, de apenas 4.240 habitantes. Já a novela global Aquele Beijo teve várias tomadas no Lajedo do Pai Mateus – conjunto de formações rochosas cortado por várias trilhas que levam a inscrições rupestres.
Mesmo assim, a maior celebridade de Cabaceiras não é nenhum ator ou diretor, e sim o bode. Lá ele é até motivo de festa, em maio, com direito a feira de caprinos, mostras de artesanato, gastronomia “bodística”, apresentação de danças folclóricas, competições, palestras e shows de forró.
Atualizada em: 11/12/2024