Blumenau é famosa pela Oktoberfest, mas tem muito mais o que fazer

Adobe Stock: Blumenau – MAAD
Assim que o primeiro barril de chope é estourado no início de outubro, Blumenau (SC) dá início a mais uma edição da segunda maior Oktoberfest do planeta, atrás apenas da festa original realizada em Munique, na Alemanha. Dali até o final do mesmo mês, milhares de pessoas passam pela cidade em busca de muita farra, gente bonita e uma vontade irresistível de entornar milhões de litros de cerveja.
Cultuada há muitos anos e com atrativos suficientes para agradar desde adolescentes até famílias com crianças pequenas, a Oktoberfest é um excelente motivo para visitar Blumenau, mas não o único. Mesmo porque nem todo mundo vai até lá só para beber ou cair na gandaia.

Adobe Stock: Vila Germanica, BLumenau – MAAD
Vale, e muito, aproveitar o passeio para conhecer um pouco mais da curiosa herança deixada pelos imigrantes alemães na região, presente na arquitetura das casas, nos pratos típicos servidos nos restaurantes, no chope
artesanal e nos hábitos das pessoas.

Adobe Stock: Vila Germanica, Blumenau – Alexey Stiop
Rua da Linguiça
O primeiro contato com Blumenau, que se esparrama as margens do Rio Itajaí-Açu, pode ser um passeio a pé pela Rua XV de Novembro, a rua do comércio, no centro. Era conhecida antigamente como Würtasse, algo como Rua da Linguiça, por causa do traçado estreito e sinuoso. Foi a primeira a ser calçada e receber iluminação pública em Santa Catarina, em 1929.

Adobe Stock: Tradicional salame de porco defumado conhecido como “linguiça Blumenau” – Adilson
Nela, há diversas construções em estilo enxaimel, típico da Alemanha, como a prefeitura e o simpático Castelinho da Havan – réplica da prefeitura da cidade alemã de Michelstadt que hoje abriga uma loja de departamentos. Mas existem também edificações modernas, como a ousada Catedral de São Paulo Apóstolo e o charmoso Teatro Carlos Gomes.

Adobe Stock: Loja da Havan – João Gambini
Durante a Oktoberfest, a XV de Novembro se transforma numa espécie de Marquês de Sapucaí do carnaval alemão-catarinense, quando rolam desfiles nota dez em alegoria e originalidade. Pela rua passam bandinhas folclóricas, membros dos clubes de caça e tiro e as atuais rainha e princesas da festa (eleitas em concursos disputadíssimos), além de dezenas de carros alegóricos.São seis desfiles ao todo durante as três semanas da festa, realizados sempre as quartas (19h30) e sábados (16h). Já nos outros dias da semana, a vida segue normal na rua, que volta a ser dos carros e do comércio.

Adobe Stock: Linguiça de Blumenau – TPhotos
No final da XV de Novembro, chega-se à Praça Hercílio Luz, que dá acesso ao Museu da Cerveja, com peças e fotos que contam a história da produção da bebida em Blumenau. Foi exatamente nessa região que os primeiros imigrantes alemães chegaram em 1850, depois de navegarem pelo Rio Itajaí-Açu desde o litoral.Eram liderados pelo médico e farmacêutico Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, que acabou emprestando o nome à cidade. As terras foram cedidas pelo governo para uso privado do Dr. Hermann, seguindo a política de incentivo à imigração criada por D. Pedro II.

Adobe Stock: Oktoberfest – IA
A casa onde o médico alemão viveu com a família fica pertinho da tal praça e ainda está muito bem conservada. Tanto que transformou-e no Museu Família Colonial (Alameda Duque de Caxias, 78), um dos pontos mais visitados de Blumenau. Lá estão diversos utensílios da turma que trouxe o chope para a região no final do século 19. A região ainda abriga o imponente edifício da Fundação Cultural de Blumenau, que abriga biblioteca, teatro e galerias de arte.
Chope na água
A maior dificuldade que os imigrantes enfrentaram naquelas terras novas e estranhas foram as constantes cheias do Rio Itajaí-Açu que, sem qualquer aviso, jogava suas águas para dentro das casas. Muitas outras gerações
depois do Dr. Hermann vieram a sofrer com o problema. E foi justamente por causa de uma dessas devastadoras enchentes que, em 1984, nasceu a Oktoberfest local.

Adobe Stock: Vila Germênica – Thiago
Depois da tragédia, a prefeitura resolveu promover uma festa para ajudar nas finanças e levantar o moral dos
moradores. Bastaram apenas três anos, quando quase um milhão de foliões caíram na farra em Blumenau, para a farra alemã se firmar de vez como um evento popular de proporções carnavalescas. Além dos desfiles nas ruas, a festa rola na Vila Germânica, um imenso centro de exposições com arquitetura de inspiração europeia, onde há lojas de produtos típicos, restaurantes e pavilhões climatizados. Lá, principalmente durante a noite, o bicho pega.

Adobe Stock: Oktoberfest – Tiagozr
Ao longo da Oktoberfest, o espaço é preparado com palcos onde são realizados shows folclóricos e os tradicionais concursos de chope em metro, no qual o candidato precisa beber quase um litro numa só golada e no menor tempo possível. Mas o lugar também conta com áreas mais inofensivas, como a Kinderplatz, um playground lúdico montado especialmente para as crianças se divertirem.
No meio de tudo isso, entre os adultos, a paquera rola solta, bem como os litros de cerveja. A gastronomia é outra que pede passagem e assume papel fundamental na festa. O cardápio inclui os tradicionais joelho de porco com batata, kassler (bisteca defumada) com chucrute, salsichões e companhia. Há ainda muitos pratos a base de peixe e frango, sem contar sobremesas deliciosas, como a torta alemã e o apflelstrudel, folhado a base de maçã, servido com nata, sorvete ou chantilly.

Adobe Stock: Vila. Blumenau – Thomas Ueda
Sotaque alemão
Mais do que se divertir na Vila Germânica, quem vai a Blumenau pode aproveitar a viagem para se aprofundar na atmosfera alemã que toma conta do Vale Europeu. A 22 km do centro da cidade, por exemplo, desponta a vila de Itoupava, onde muitas pessoas ainda falam a língua de Ludwig von Beethoven e Albert Einstein no dia-a-dia. Aliás, quem vai até lá é capaz até de encontrar quem não aprendeu português até hoje e mora nas casas construídas pelos avós há mais 100 anos.

Adobe Stock: Floresta Negra com Bollenhut no desfile da Oktoberfest em Blumenau – Michael Fritzen
É em Itoupava que se concentra a maior parte das simpáticas construções enxaimel típicas da região. São casas com telhado triangular, vigas de madeira e paredes de tijolinhos. É fato, porém, que a herança dos imigrantes alemães não se resume à arquitetura e a culinária. Eles deixaram, sobretudo, um espírito de empreendedorismo que a cidade soube aproveitar.

Adobe Stock: Arquitetura Germanica – J.P
A vila de Itoupava foi a primeira de Santa Catarina a ganhar iluminação pública e a também a ter emissora de rádio (a Rádio Clube de Blumenau, em 1934) e de televisão (a TV Coligadas, canal 3, em 1969). No decorrer da história, Blumenau tornou-se também um dos polos mais importantes da indústria têxtil no Brasil e um importante centro de compras, especialmente de roupas, cristais e artigos de cama, mesa e banho. Várias fábricas conhecidas têm outlets pela cidade.

Adobe Stock: Blumenau, SC – Caio
Goleada em cidadania
Por essas e outras, Blumenau é uma pequena amostra de como seria o Brasil se o país inteiro tivesse o zelo alemão em tudo, do trato com o jardim e o preparo da comida à preocupação com a qualidade de vida em geral. Por suas ruas sempre limpas caminha uma gente educada e cordial.

Adobe Stock: City Hall em Blumenau, SC – William
Os carros param para os pedestres atravessarem a rua – mesmo fora das sinaleiras, como eles chamam o semáforo por lá. A maioria da população trabalha nas indústrias e, portanto, tem a vida regulada pelos horários da rotina fabril. E é por isso que, as 18h e pouco, o blumenauense já está em casa para jantar ou num happy hour com os amigos.

Adobe Stock: Blumenau, SC – Caio
Para os baladeiros que vêm de fora, essa é a hora de ir à Cervejaria Eisenbahn, a mais famosa da cidade. Embora pequena, a casa enche de visitantes durante a Oktoberfest, que cantam e brindam ao som de marchinhas típicas entoadas por conjuntos alemães. No bar, há uma parede de vidro, onde é possível acompanhar o preparado das bebidas. E antes de pensar em se jogar ali, saiba que, mediante agendamento, é possível fazer visitas monitoradas com direito à degustação direto do tanque da fábrica.

Adobe Stock: Centro de Blumenau, SC – Rafael
Atualizada em: 24/01/2025