Aurora Boreal colore céu da Noruega no inverno
Enquanto se desprende do continente em direção ao Círculo Polar Ártico feito um punhado de grãos lançados a esmo, o mapa da Noruega revela joias como Tromso, uma das principais cidades do norte do país – e que, não à toa, carrega a alcunha de Capital do Ático. Universitária e dona de um comércio agitado, a região ganhou fama por ser um dos principais points de observação da aurora boreal, que costuma dar as caras por lá entre outubro e março.
Apesar de a temperatura girar em torno de -5ºC durante o inverno, as condições climáticas da cidade são tranquilas e favoráveis se comparadas a de outros lugares onde é possível avistar o fenômeno, como Canadá, Rússia e Finlândia, cujos termômetros a -20ºC indicam que está “quentinho”, tamanho o frio que faz por lá.
A despeito de atrações como as lojas do charmoso centrinho e o Polaria, um museu modesto – apesar da fachada vistosa, que imita peças de dominó despencando – em que é possível observar focas e outros animais que vivem no ártico, Tromso vive mesmo da aurora boreal.
Durante o dia, quem vai até lá pode visitar o Universitetsmuseet i Tromso, museu que conta a história do fenômeno, o que ele representou para povos antigos (os exemplos vão desde crianças jogando bola no céu até uma ponte para o mundo dos deuses e uma raposa flamejante em caça) e por que acontece na região (veja o quadro O que é a aurora boreal).
Ou então a moderníssima Ishavskatedralen (Catedral do Ático), igreja luterana com arquitetura inspirada em icebergs, nas estruturas de madeiras em que o bacalhau é colocado para secar e, é claro, na aurora boreal. Os amplos vitrais em formato triangular foram projetados, inclusive, para permitir que a luz do fenômeno invada o interior do templo.
É quando a noite cai, no entanto, que os ânimos se exaltam. Nos hotéis, ninguém tira os olhos dos aplicativos e sites que indicam se haverá atividade naquele dia e se o clima estará favorável para ver as luzes do norte. Basicamente, o céu tem que estar limpo, sem nuvens. Neve e chuva, portanto, são maus sinais. E alheias a tudo isso elas surgem na hora que bem entenderem.
A aurora boreal
É preciso ter paciência na escuridão da estrada, aguentar o frio (pode colocar frio nisso) e confiar que a natureza jogue do seu lado. As luzes no céu podem aparecer por alguns segundos ou durar horas. Podem também não aparecer. Às vezes, são fraquinhas, monocromáticas (em geral verdes) e semelhantes a nuvens ou arcos estáticos. Em outras, nítidas, coloridas e dançantes, como se fossem cortinas incandescentes em meio a um balé tão espetacular que os olhos incrédulos das testemunhas demoram a compreender.
Em Tromso, guias acabam sendo fundamentais nesse processo, mesmo porque, a não ser que você tenha conhecimentos profissionais e um bom tripé, é muito difícil fotografar a aurora. Como dominam a técnica, eles tiram retratos belíssimos, que, inclusive, costumam ressaltar bastante as cores que tingem o céu e revelar tons de vermelho e violeta que o olho nu interpreta de outra forma. Nada, porém, tira a magia de presenciar o fenômeno in loco. É sério: ver o mar ou a neve pela primeira fez é emocionante. Ver a aurora, no entanto, é ir além.
O que é a aurora boreal
A luz da aurora boreal está diretamente ligada à atividade solar, que, em constantes erupções, milhões de vezes mais poderosas que as vulcânicas da Terra, joga bilhões de toneladas de partículas eletrizadas no espaço. É o chamado vento solar ou plasma. Essa massa gigantesca de partículas, após uma jornada de 160 milhões de quilômetros que passa por Mercúrio e Vênus, é atraída pelo campo magnético da Terra e converge em direção aos polos. Uma vez na
atmosfera, o vendaval de elétrons entra em contato com moléculas de oxigênio e hidrogênio, entre outras, e cria a fascinante luminescência (cada elemento é responsável por uma cor emitida no céu).
Só é possível avistá-la nos dias mais escuros do Hemisfério Norte, que se dão durante o inverno – no verão norueguês, por exemplo, o sol pode brilhar até meia-noite e impedir a observação da aurora. Por isso é preciso encarar o frio e contar com a sorte, já que dias nublados dificultam ver o fenômeno, que por sua vez apresenta mais ou menos atividades de acordo com a vontade da natureza.
Trenó de renas e snowmobile
Para aumentar as chances de observar as luzes do norte, vale a pena passar o máximo de noites possível em Tromso. O que vem a calhar, já que, nos arredores da cidade, é possível curtir uma série de experiências. Entre elas, visitar Camp Tamok, a 1h15 da Capital do Ártico, onde se conhece o estilo de vida dos lapões, povo nativo das regiões setentrionais da Escandinávia.
Mais do que isso, o local é uma espécie de parque de diversões onde dá para andar de trenós puxados por renas ou cães husky e pilotar snowmobiles por 30 km, num trajeto que dura 4h30. Entre uma atividade e outra você imerge em paisagens fascinantes, com lagos congelados, pinheiros e picos ao fundo.
Senja
Outra dica é esticar o passeio até Senja. No caminho, você irá se deparar com o maior troll do mundo, segundo o Guinness Book. Talhado em madeira e com cara de bobão, o monstrengo de 17,96 metros de altura fica aberto à visitação e rende fotos divertidas. Em Senja, é possível fazer safáris marinhos para avistar baleias (no verão) e caminhar na neve. Ou então reservar um dos barcos ancorados na bela marina e, na companhia de especialistas, sair para pescar bacalhau.
Caso seja bem sucedido, inclusive, você pode solicitar que o peixe fresco seja preparado e servido no jantar. Nesse caso, vale a pena fazer como os noruegueses e optar por comer cedo, por volta das 18h. Isso porque Senja fica em um fiorde isolado, no qual é observar a aurora boreal ao longo da noite.
Atualizada em: 06/06/2023