As atrações de Oaxaca, o melhor lugar para passar o dia de Los Muertos no México.

Adobe Stock: Dia de Los Muertos, Mexico – Eve Orea
É noite e um clima alegre e festivo invade a praça ladeada por construções coloniais e outras atrações. A atmosfera é essa por conta do desfile de uma turma vestida como monstros coloridos, que avança pela área enquanto toca música e dança – e assim vai conquistando espectadores, vários deles com o rosto, e mesmo com partes do corpo, pintado como o de um esqueleto.

Adobe Stock: Dia de los Muertos, Mexico – Pixel Matrix
Dá para imaginar que se trata de um feliz bloco de carnaval zanzando em alguma cidade histórica brasileira, mas a trupe em questão está em Oaxaca (pronuncia-se “oarraca”), capital da província mexicana de mesmo nome, celebrando o Dia dos Mortos, que seria o Dia de Finados no Brasil. Isso mesmo: celebrando, com farra, a memória daqueles que se foram. E para completar a surpresa, as comemorações não duram apenas um dia, mas quatro: todos os anos, vão de 30 de outubro a 2 de novembro.

Adobe Stock: Oaxaca, Mexico – Franzi
Pois é, no México, morte não combina com tristeza, pelo menos não durante essa época do ano. No período, uma verdadeira festa explode em cores e irreverência em todo o país, com música, flores, fantasias e comida em abundância, numa manifestação popular reconhecida pela Unesco como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade e que equivale, em termos de importância cultural, ao carnaval ou São João brasileiros. Não à toa, a Disney/Pixar fez uma animação sobre o tema, chamada Viva – A Vida é uma Festa, que conquistou o Oscar após um enorme sucesso entre os fãs mirins (e adultos também).

Disney California Adventure – Divulgação
Como todo festejo que se preze tem seu “embaixador”, essa tradição se dá sob as bênçãos de uma emblemática e onipresente personagem: Catrina, ou Doña Muerte (Dona Morte), esqueleto que é representa de forma bem- humorada a morte para os mexicanos, a qual surge vistosa em suvenires e quadros a partir de outubro, conforme se aproxima o Dia dos Mortos.
Para participar, basta aparecer. Os eventos rolam na rua, parques temáticos e cemitérios. Sim, principalmente lá. Acompanhar os rituais numa necrópole – e você verá que isso não é mórbido nem assustador – é uma das poucas regras gerais, já que as festividades variam muito entre as regiões. Mas Oaxaca, em especial, mostra um aspecto todo particular dessa forma de homenagear os que partiram desta vida.

Adobe Stock: Festival dia dos Los Muertos, México – Eve Orea
Situada a seis horas da Cidade do México, a região de arquitetura colonial e forte herança espanhola e indígena tem ruas onde borbulham turistas vindos de diversas partes do mundo e de todo o México para ver as celebrações tidas como as mais tradicionais do país. Uma visita por lá é uma experiência cultural riquíssima e muito colorida, esbanjada nos vestidos usados em danças típicas, na gastronomia de múltiplos sabores e na textura do artesanato exuberante, que dá uma baita vontade de levar para casa.

Adobe Stock: Dia dos Los Muertos, México – Eve Orea
Mix de culturas
De 31 de outubro e 10 de novembro rola o auge das celebrações em Oaxaca. Nesse período, a cidade fica abarrotada de visitantes, que se juntam aos locais para curtir a intensa programação, uma das mais famosas e populares do México por preservar muito das raízes indígenas que originaram boa parte dos rituais.
Tal herança cultural vem da confluência dos vários povos que habitaram a região, em especial os zapotecas, civilização que viveu ali de 500 a.C. até meados dos anos 800 da era cristã, e que foi extinta com a chegada dos espanhóis. A boa, portanto, é aproveitar o dia para conferir esse caldeirão de influências que moldou o município.

Adobe Stock: Dia de Los Muertos, México – Eve Orea
Assim, reserve a manhã para visitar o Monte Albán, a 10 km da cidade. Três horas são suficientes para conhecer essas ruínas, que garantem belas fotos das imponentes edificações zapotecas e do platô de 400 metros acima do Vale de Oaxaca. De lá, siga para o Museu das Culturas. Na labiríntica construção que abrigava o Convento de Santo Domingo, algumas galerias parecem reluzir por conta das joias de ouro forjadas pelos zapotecas – as salas também exibem uma série de relíquias retiradas durante escavações no Monte Albán.

Adobe Stock: Monte Albán, México – Sébastien Michel
Da parte dos colonizadores, o principal legado está no centro histórico, dono de prédios e igrejas coloniais e ruas de pedras que não ficam nada a dever às construções de cidades espanholas, como Granada. Todos os endereços parecem levar à Praça Zócalo, coração pulsante da cidade e uma delícia de lugar para passear. De dia, a vizinhança reúne o que há de melhor no artesanato local, famoso pelos vasos de cerâmica e esculturas coloridas. À noite, a praça muda de perfil e vira um ponto de agito, já que conta com diversos bares instalados ao seu redor.

Adobe Stock: Praça Zocalo, México – Diegograndi
Mariachis e mezcal
Familiarizado com o astral e o mix cultural do lugar, você está pronto para o principal evento do Dia dos Mortos: a ida ao cemitério de Xoxocotlán, no dia 31 de novembro, em torno das 19h. Ao mesmo tempo em que a situação exige respeito, ela é leve e divertida. Não raro, a seriedade é quebrada pelo som de bandas de mariachis, que vão de túmulo em túmulo tocando músicas.

Adobe Stock: Festival Xoxocotlan, México – Ai
Ao redor de cada sepultura, pessoas da família – cujos próprios membros, muitas vezes, estão com o rosto pintado ou com máscaras – se revezam em goles de mezcal, bebida mexicana tão forte quanto a tequila, que ajuda a espantar o frio. A “danada” também é oferecida aos visitantes. Por isso, cuidado: volta e meia se vê alguém um pouco mais alegre após confraternizar em cinco túmulos diferentes.

Adobe Stock: Festival Xoxocotlan, México – Ai
Parece, e vá lá, é estranho, mas, para preparar o estômago para as doses de mezcal, aposte nas comidas típicas. Entre elas estão as quesadilhas e tortillas quentinhas, preparadas na hora em barracas de comida instaladas nos arredores do cemitério. E como toda farra popular de responsa, ela acaba na rua, nas vias do centro histórico, onde uma multidão, que parte do Zócalo e sobe a Calle Macedonio Alcala, segue na cola de animadas bandas.

Adobe Stock: Torlilla – George Dolgikh
Ao longo do trajeto, famílias vestidas de monstros, crianças, de zumbis, e jovens caracterizadas como Catrinas se divertem num clima quase carnavalesco, sob o comando de bandas de “comparsas” (blocos em que os componentes usam trajes coloridos de monstros). Não faltam nem bonecões como os de Olinda: em Oaxaca, porém, as figuras gigantes representam – adivinhe – caveiras.

Adobe Stock: Caveira Festival Los Muertos – BojoShop – IA
Atualizada em: 31/01/2025