A linda rota do vinho do Alentejo, em Portugal – Voupranos

A linda rota do vinho do Alentejo, em Portugal

Adobe Stock: Marvão, Alentejo – Grobima

Uma hora depois de deixar Lisboa pela rodovia A2 rumo ao interior de Portugal os campos de sobreiros começam a tomar conta da paisagem. O sobreiro é a árvore de cuja casca do tronco se extrai a cortiça para as rolhas das garrafas de vinho. É o primeiro sinal de que você está chegando ao Alentejo. Logo vão aparecer outros, como as torres da Catedral de Évora, os cardápios com pratos de coelho bravo e porco preto, além, é claro, das inúmeras bodegas dessa região que é uma das principais produtoras de vinho de Portugal.

Foram os romanos que plantaram as primeiras videiras do Alentejo há cerca de dois mil anos, dando início a uma saborosa tradição. Hoje, os campos de vitis vinífera espalham-se até a fronteira com a Espanha e circundam inúmeros vilarejos medievais que os portugueses ergueram no topo dos morros. Serviam como cidades-fortalezas.

Cercadas de muralhas, com um castelo no ponto mais alto, tinham a função militar para proteger o território contra invasões. Algumas são tão pequenas que contam com apenas 50 moradores, tal como Monsaraz, onde os visitantes assistem ao pôr do sol tomando taças de tintos e brancos nos terraços de winebars.

Adobe Stock: Castelo Medieval, Arraiolos, Alentejo – Tolo

Évora

Os romanos também deixaram como herança a cidade de Évora, a capital do Alentejo e principal porta de entrada da região, a 130 km de Lisboa, fundada por eles com o nome original de Ebora Liberalitas Julia. Uma lembrança dessa época permanece: o Templo de Évora, uma ruína com colunas de granito no ponto mais alto da cidade.

A partir dele se esquadrinha as ruas estreitas do centro antigo, com calçamento de pedras, casarões de arquitetura típica caiados de branco e uma muralha medieval no entorno. Embora seja a maior cidade do Alentejo, Évora tem apenas 55 mil habitantes e atmosfera tranquila.

Em uma caminhada é possível conhecer seus principais pontos, como a imponente Catedral da Sé (do século 12) e a Capela dos Ossos, cujas paredes são forradas de crânios humanos. Foi construída por monges franciscanos há cerca de 500 anos para ser um espaço de meditação sobre a efêmera condição humana. É dá um certo frio na espinha.

Adobe Stock: Jardim Diana e Ruínas Romanas, Évora – Jair

Adobe Stock: Catedral de Évora, Portugal – Pierrick

Cartuxa

Para acalentar o espírito e provar sem demora do bom vinho alentejano você pode se acomodar em uma das mesas ao ar livre da bela Praça do Giraldo, ou então seguir para a vinícola Cartuxa, que fica colado à cidade. Nela se fabrica o célebre Pêra Manca, um dos mais emblemáticos vinhos de Portugal. Diz a lenda que esse era o vinho que Pedro Álvares Cabral levava nas barricas das caravelas na viagem do Descobrimento.

Na Cartuxa, o Pêra Manca passa 18 meses em barricas de carvalho francês, que ficam em uma cave com música ambiente de canto gregoriano. Serve para dar um clima especial ao casarão histórico que, no passado, funcionou com mosteiro jesuíta. A degustação na Cartuxa acontece em um salão interno ao lado das barricas. Há visitas rápidas a partir de 5 euros e outras mais completas com degustação de seis tipos de vinhos acompanhados com queijos e defumados. No verão, é montado um winebar no pátio para vender os vinhos em taças e petiscos.

Adobe Stock: Évora, Portugal – Alena

Adobe Stock: Évora, Portugal – Alena

Rota dos Vinhos

A partir de Évora é bem fácil conhecer muitas outras vinícolas do Alentejo. Os trajetos são curtos, as estradas planas e os caminhos cheios de vilarejos encantadores. Atualmente, 73 propriedades fazem parte da Rota dos Vinhos do Alentejo e estão abertas para visitas. Oferecem passeios pelos vinhedos, degustações, almoços harmonizados, aulas de culinária, entre outras experiências.

Cada uma a seu estilo, mais intimista ou com porte industrial, todas compartilham das belas paisagens de morros suaves e parreirais de castas autóctones, como Antão Vaz, Trincadeira e Aragonez, e outras que se adaptaram bem ao clima da região e se tornaram patrimônio local, como a francesa Alicante Bouschet.

Adobe Stock: Vinhedos, Évora, Alentejo – Alena

Adobe Stock: Alentejo, Portugal – Malajscy

Reguengos Monsaraz

Em Reguengos Monsaraz, está a vinícola Ervideira, onde o visitante ganha uma taça para poder provar os vinhos diretos dos tanques de fermentação. A sala de degustação é bem bonita com paredes envidraçadas com vista elevada para os parreirais. Todos os rótulos da casa ficam expostos na prateleira e o visitante tem liberdade para escolher cinco deles para provar.

O mais pedido é o Conde D’ervideiro, também chamado de “vinho de água”, cujas garrafas passam oito meses mergulhadas no fundo de um lago a cerca de 15 de metros de profundidade. Esse tipo de bebida tem como origem os “vinhos de naufrágio” encontrados nos restos de navios que foram à pique e teriam o sabor alterado de forma surpreendente.

Adobe Stock: Igreja de Santo Antonio, Reguengos de Monsaraz – Analisisgadgets

Adobe Stock: Reguengos de Monsaraz, Portugal – M.studio

Estremoz

Já em Estremoz, a João Portugal Ramos é uma vinícola de grande porte, inaugurada em 1989, que produz cerca de 3,5 milhões de garrafas ao ano. Tem arquitetura elegante em estilo típico português, cercada pelos parreirais, e seu grande diferencial está no método de produção artesanal do vinho. A colheita é manual e não se faz uso de máquinas de maceração e de tonéis de inox para fermentação da bebida.

A fermentação é realizada em grandes tanques abertos de mármore (lagares), onde os funcionários, usando botas e roupa de borracha, fazem a “pisa das uvas”. Não é encenação, o processo da bebida ali é feito assim mesmo. Na sala de degustação, há balcões de onde se vê os tanques que mais parecem piscinas cheias de uva com homens caminhando dentro.

“Por que fazem dessa forma se dá muito mais trabalho?” é o que todo mundo pergunta. Para manter o máximo de qualidade possível, costumam responder os guias. O esmagamento suave das uvas, sem uso de máquina, libera taninos mais redondos. Na época da vindima, em agosto e setembro, os turistas também participar da colheita e ajudar na “pisa das uvas”. Vestem a roupa emborrachada e entram nos tanques para caminhar sobre o líquido pastoso que, um ano depois vai dar origem a alguns dos melhores vinhos alentejanos.

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Adobe Stock: Barris de vinho, Alentejo, Portugal – MagdalenaPaluchowska

Publicado em: 28/09/2023
Atualizada em: 28/09/2023
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