Os encantos de conhecer os magníficos Cânions do Sul – Voupranos

Os encantos de conhecer os magníficos Cânions do Sul

Uma esplêndida escarpa que vai de Santa Catarina ao Rio Grande do Sul marca a divisão entre a planície litorânea e o planalto serrano. É nesta região que dois parques nacionais se abraçam em uma das paisagens mais arrebatadoras do sul brasileiro. Do lado gaúcho, Aparados da Serra e o Cânion do Itaimbezinho, o mais belo da reserva. Na parte catarinense, Serra Geral, que abriga o impressionante Cânion da Fortaleza, o maior da América Latina.

Tales Azzi / Editora Europa

Em ambos os lados, vertiginosos paredões se impõem, abruptos, em meio a um cenário único, adornado por pampas, cachoeiras, rios cristalinos, Mata Atlântica e florestas de araucárias centenárias (algumas da época do descobrimento). De repente, das montanhas, faz-se o abismo, e os mansos campos de cima da serra, ora verde, ora dourados, desaparecem sob os pés. O chão se esvai em precipícios dramáticos, por onde escorrem belíssimas quedas d’água. Resultado de um derrame de lavas ocorrido há 130 milhões de anos que deu origem às rochas de basalto que dividem esses campos do litoral.

As cidades de apoio para os viajantes são a gaúcha Cambará do Sul, na parte alta da serra, e a catarinense Praia Grande, no sopé dos cânions. No entanto, as melhores opções de hospedagem ficam na zona rural, fora das cidades. Há guias para os passeios – acredite: um condutor experiente é fundamental.

Cânion Fortaleza – Tales Azzi/Editora Europa

Pelas pastagens naturais da parte alta – os chamados campos de cima da serra –, fazendas de gado centenárias preservam suas tradições. E algumas delas acolhem os turistas. É nesses ranchos que você terá a oportunidade de sorver, na cuia de um gaúcho, o autêntico mate, da mesma erva estimulante que os guaranis tomavam ao redor da fogueira. Naquela época, os índios, batizaram a região de Itaimbé (na tradução, “pedra cortada”), mas depois vieram os tropeiros e a rebatizaram de Aparados por causa do aspecto das escarpas, que parecem ter sido aparadas à faca.

O fenômeno da “viração”

Seja lá qual for o nome, cortante mesmo é o frio, que sempre transforma a região em palco de geadas e nevascas durante o inverno. Mas é nos outros meses do ano que o fenômeno da “viração” (quando o nevoeiro sobe das áreas mais baixas e toma o topo dos cânions) se faz mais presente e o movimento das nuvens dá a impressão de estar no céu. Nesses momentos, a névoa parece acentuar a atmosfera solitária e o silêncio só é irrompido pelos “ventos uivantes” e pelo estrondo das águas que despencam lá embaixo, nos rios e riachos dos desfiladeiros. Já nos dias de céu de brigadeiro, pode-se contemplar o mar ao longe e até tomar um banho de cachoeira – uma tarefa para os “fortes”, já que a água é gelada mesmo no verão.

Cachoeira – Tales Azzi/Editora Europa

Embora o Parque Nacional de Aparados da Serra também proteja uma parte do belo Cânion do Faxinalzinho, a grande vedete é mesmo o Itaimbezinho, com seus paredões, extraordinariamente verticais, que atingem 720 metros de profundidade e 7 km de extensão. Não bastasse sua natural imponência, o cânion ainda é o trampolim de onde salta o Rio Perdizes para formar a Cachoeira Véu de Noiva, um dos cartões-postais da região.

Trilhas e percursos populares

Duas trilhas até o Itaimbezinho partem do centro de visitantes e podem ser feitas sem guia. O percurso mais popular é a Trilha do Vértice. E não é para menos: além de rápida (são apenas 45 minutos, somando ida e volta), boa parte desse trajeto se dá sobre passarelas que permitem contemplar de camarote as cachoeiras da Andorinha e Véu de Noiva.

Cachoeira dos Venâncios – Tales Azzi/Editora Europa

Outra caminhada fácil é a Trilha do Cotovelo, que leva duas horas (ida e volta), também passa pela Véu de Noiva, mas traz como diferencial o percurso pelos arroios Perdiz e Preá. Independentemente de qual seja a sua escolha, vá de manhã para fugir da neblina.

No verão, também vale percorrer os caminhos que saem da cidade de Praia Grande, ao pé dos cânions, para ter outra perspectiva da paisagem e curtir as cachoeiras, passando por baixo delas. Neste caso, porém, é imprescindível o acompanhamento de um condutor credenciado, até porque a aventura é puxada. A Trilha do Rio do Boi, por exemplo, tem 8 km de caminhada pesada pelo leito do rio, na parte baixa do Itaimbezinho.

Araucárias – Tales Azzi/Editora Europa

Serra Geral

Apesar da estrutura precária, com apenas uma guarita do ICMBio controlando a entrada de carros, todo mundo que visita o parque vizinho acaba esticando até o de Serra Geral para ver de perto o impressionante Cânion da Fortaleza a partir de um mirante improvisado num dos pontos mais altos da borda da garganta. E não é para menos: com 8 km de extensão e 940 metros de profundidade, essa incrível muralha verde oferece uma vista magnífica. Em dias de pouca nebulosidade, dá para avistar, ao longe, até os prédios de Torres, no litoral gaúcho, e a Lagoa do Sombrio, em Santa Catarina.

Canion do Itaimbezinho – Tales Azzi/Editora Europa

A caminhada do estacionamento até o mirante dura 50 minutos, e o passeio ainda pode ser combinado com a trilha que leva à intrigante Pedra do Segredo e passa pela Cachoeira do Tigre Preto. Para chegar aos dois pontos, é preciso atravessar um rio e encarar algumas subidas pedregosas. Mas quem se importa? Diante da imensidão dos cânions, a alma também se agiganta e faz tudo valer a pena.

Publicado em: 04/04/2023
Atualizada em: 05/04/2023
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