Tartarugas, jubartes e a vibe ecológica da Praia do Forte
Existem vários motivos para você querer ir à Praia do Forte. A praia é uma das mais bonitas da Bahia, com enseadas que viram piscinas naturais, coqueiros a perder de vista e barcos de pesca ancorados. O cenário lembra aquelas novelas de pescadores da Globo. Uma brisa suave sopra do mar. O sol generoso brilha forte o ano inteiro. A vila é cheia de pousadas bacanas e bons restaurantes. E um louvável sentimento ecológico toma conta do lugar, afinal, foi lá que surgiu o projeto Tamar, que protege as tartarugas marinhas da costa brasileira. Isso tudo com uma vantagem extra: a localização. A Praia do Forte fica praticamente ao lado de Salvador, são apenas 50 km. Apesar da proximidade com a capital baiana, a Praia do Forte é para quem quer ordem e sossego. Não tem som alto ecoando dos alto-falantes, jet ski ou avenida à beira-mar…
Aliás, não tem avenida alguma, só uma simpática alameda transformada em calçadão para pedestres, onde há lojinhas e restaurantes. Por isso, carros não entram no principal acesso à vila. É preciso estacionar fora da área do centrinho e seguir caminhando, o que, nesse caso, é um imenso prazer até porque tudo fica muito perto.
Quem chega logo percebe que existe um astral muito especial no lugar, mas leva um tempo até captar todos os detalhes porque a Praia do Forte é um pouco diferente de outras vilas da costa baiana. Ali, tudo é certinho e padronizado, já que a vila cresceu, ao longo dos anos, seguindo a estética do bom gosto e da preservação ecológica. Para que tudo ali não virasse uma bagunça, muitas regras foram criadas. Uma delas proíbe letreiros luminosos no comércio, bem como luzes de frente à praia, já que a claridade interfere no senso de orientação das tartarugas e a Praia do Forte é o principal ponto de desova desses animais no País.
Outra regra proíbe qualquer construção acima da altura dos coqueiros, para não ficar visível na paisagem. Assim, quem está na praia não vê fachadas de cimento, apenas o verde do coqueiral. Até os postes foram abolidos e toda fiação elétrica foi para baixo do solo. O resultado é que a Praia do Forte, apesar de badalada, conseguiu manter uma certa autenticidade. Ao lado da butique elegante, mora um pescador. E, na praça principal, ao lado da igrejinha de São Francisco, turistas e nativos se misturam em total harmonia.
O cenário também muda na praia por conta dos arrecifes, que se estendem por boa parte da costa. Na maré baixa, o mar recua tanto que é possível caminhar por centenas de metros sobre as pedras mar adentro. Em alguns pontos, formam-se piscinas naturais. Como as piscinas são rasas, o sol logo aquece a água, que fica deliciosamente morna. O espetáculo acontece todos os dias e praticamente em toda a praia, que tem 12 km de extensão. As mais conhecidas e profundas ganharam o nome de Piscinas Naturais do Papa Gente. Ficam a pouco mais de um quilômetro de distância do centro da vila. Só não espere encontrar um grande bar de praia porque não há. O serviço de praia é feito por vendedores ambulantes que montam barraquinhas e alugam cadeiras aos turistas.
A Praia do Forte tem esse nome por conta de uma construção histórica que fica no alto de um morro perto da praia. Não é um forte, na realidade, mas sim uma casa construída por volta de 1550 para ser moradia do português Garcia D’Ávila, um ex-almoxarife da missão real de Tomé de Sousa, que logo se tornaria dono do maior latifúndio do mundo na época: uma imensidão de terras que ia da Bahia ao Maranhão, quase 10% de todo o território brasileiro atual. A casa, hoje em ruínas, foi construída com pedras à semelhança das construções medievais, o que explica o “castelo” em seu nome.
Outra atração é a sede do Projeto Tamar, que é cheia de tanques com tartarugas adultas e filhotes. A visita mais interessante acontece às 15h30, quando um monitor acompanha os turistas. Ou então às 16h30 quando os biólogos alimentam os tubarões e as arraias. Graças ao Projeto Tamar, milhões de tartaruguinhas nascidas na Praia do Forte já foram devolvidas ao mar. O número parece astronômico, mas é preciso levar em consideração que apenas um de cada mil filhotes consegue chegar à vida adulta. Mas, quando isso acontece, elas voltam todos os anos para a mesma praia onde nasceram para fazer seus ninhos, geralmente entre setembro e março.
E não são apenas as tartarugas que dão as caras na Praia do Forte todos os anos. As baleias jubarte também aparecem entre julho e novembro para namorar e procriar nas águas quentes do litoral da Bahia. Nessa época, as escunas partem da praia com turistas para avistá-las. O passeio garante não apenas o encontro com as baleias, mas também permite experiências únicas, como ouvir o canto dos machos ou ver os animais dando saltos para atrair as fêmeas. A Praia do Forte é um dos melhores exemplos de que o turismo sustentável e ecologicamente correto é a melhor (e talvez a única boa) alternativa para o litoral do Nordeste.
Atualizada em: 13/04/2023