vinho – Voupranos

Deguste o saboroso Roteiro do Vinho de SP

Produtores de vinho em São Roque (SP) gostam de lembrar que ali foram plantadas as primeiras videiras do Brasil, ainda no século 17, por bandeirantes paulistas. A tradição foi reforçada com a chegada, no final do século 19, dos imigrantes portugueses e italianos. Os europeus cobriram as encostas dos morros da região com vinhedos e instalaram adegas que transformaram a cidade na “capital do vinho paulista” e principal destino de enoturismo de São Paulo, a apenas 60 km da capital.

Alma Galiza – Editora Europa – Tales Azzi

Para apreciar a evolução da viticultura local, é importante esquecer aquele vinho de garrafão. É verdade que o vinho de mesa de sabor adocicado ainda é produzido em larga escala por lá, mas a maioria das vinícolas evoluiu na última década e passou a cultivar também as vitis vinífera para produzir vinhos finos de maior qualidade. Basta provar uma taça do Philosophia, um cabernet franc elaborado pela Vinícola Góes para comprovar a nova fase do vinho de São Roque.

Atualmente, o município conta com uma dúzia de vinícolas abertas à visitação, a maioria delas ao longo de uma bucólica estradinha conhecida como Estrada do Vinho. A cada final de semana, cerca de 20 mil turistas passeiam por esse caminho, que também ganhou bons restaurantes, chocolaterias, cervejarias artesanais e hotéis que instalaram seus chalés com vista para os campos de vinhedos.

Vinícola Góes

A maior e mais conhecida vinícola da região é a Góes. Ao redor dela, surgiu um complexo com dois restaurantes, bar, cafeteria e lojas de doces e licores, formando uma espécie de parque, tanto que o nome oficial do lugar é Parque Vinícola Góes. Há muitas formas de conhecer a propriedade da família Góes: com degustações, piqueniques nos parreirais e até passeios de bicicleta. A sugestão é a chamada Degustação Premium, que começa com um tour de jardineira pelos vinhedos e segue com a degustação de cinco vinhos harmonizados com embutidos, queijos e doces. Um sommelier explica, de forma simples e interessante, como treinar o paladar para descobrir a combinação perfeita do vinho com a comida.

Vinicola Goes – Editora Europa – Tales Azzi

Do lado externo, diante do jardim, vale conhecer o wine bar da Góes, onde o visitante também pode degustar os vinhos produzidos na vinícola em taças e harmonizar com tábua de queijos, burratas e bruschettas. Entre os restaurantes, o Vale do Vinho tem cardápio italiano com massas caseiras e pizzas, mas também serve ótimas carnes, como o filé ao molho de vinho com arroz cremosos de alcachofra e purê de mandioquinha.

Vinicola Goes – Editora Europa – Tales Azzi

Na parte mais alta da propriedade, subindo uma escadaria de pedras, está a loja de licores, a chocolateria artesanal, a sorveteria e o Boteco do Batata, com mesas em um deque externo e cardápio com algumas especialidades alemães.

Vinicola Goes – Editora Europa – Tales Azzi

Alma Galiza

Já a Alma Galiza tem uma atmosfera bem diferente. Erguida no alto de um morro, é uma vinícola pequena e intimista, que agrada especialmente pelo wine bar instalado em um deque externo com vista panorâmica. Ali, ao som de música instrumental de violão espanhol tocando na playlist, o visitante pode degustar, em taças ou garrafas, os rótulos da casa acompanhados de tábua de queijos, jamón ou paellas. A degustação orientada inclui uma caminhada pelo parreiral, com cinco provas.

Alma Galiza – Editora Europa – Tales Azzi

Quinta do Olivardo

Outro sucesso de público é a Quinta do Olivardo, que nasceu como vinícola, mas cresceu e ganhou fama pelo restaurante português, de ambiente rústico, estilo fazenda, que atende cerca de 10 mil pessoas em um final de semana movimentado. O restaurante é imenso, com 780 lugares divididos em três ambientes, onde são servidas cinco toneladas de bacalhau por mês. O peixe, prato-chefe da casa, comprado somente em postas altas, é preparado na brasa de carvão e servido em 23 receitas da família de Olivardo Saqui, o proprietário. O bacalhau à lagareiro, suculento, soltando grandes lascas e com um cobertor de alho frito por cima, será um dos melhores que você já comeu na vida.

Quinta do Olivardo – Editora Europa – Tales Azzi

No meio do restaurante, por onde passam os garçons vestidos à caráter (com colete e boina portuguesa), ainda funciona uma “feirinha” de comida típica, com espaços que vendem o pastel do caco (da Ilha da Madeira), sardinha no pão e bolinho de bacalhau. Há até uma mini-fábrica de pastel de nata, que produz 3 mil unidades por dia. Quando um sino toca, é sinal de que uma fornada quentinha está pronta.

Quinta do Olivardo – Editora Europa – Tales Azzi

Na vinícola, a Quinta do Olivardo chama atenção pelo “vinho dos mortos”, no qual as garrafas ficam enterradas por seis meses. O método surgiu em Portugal a partir de 1807, quando Napoleão invadiu o país e os portugueses enterraram os vinhos para escondê-los dos invasores. Ao resgatá-los, perceberam que o sabor da bebida estava diferente, alterado pela temperatura e escuridão. Na cave da vinícola, onde estão as garrafas empoeiradas de terra (só para dar um charme), se faz a degustação dos “vinhos dos mortos”.

Quinta do Olivardo – Editora Europa – Tales Azzi

Quem vai a um almoço de domingo na Quinta do Olivardo custa a acreditar que tudo ali começou há apenas dez anos, com meia dúzia de mesas e um único petisco no cardápio: o bolinho de bacalhau, que era preparado, na época, pela própria Dona Dalva, mãe de Olivardo Saqui. O bolinho era o acompanhamento da degustação dos vinhos. O petisco fez tanto sucesso que novos pratos foram adicionados.

Alma Galiza – Editora Europa – Tales Azzi

Obcecado pela qualidade, Olivardo Saqui viajou a Portugal para buscar um especialista em construir um forno a lenha tradicional e, assim, garantir que seu Leitão à Bairrada, outro clássico do cardápio, ficasse idêntico e tão saboroso quanto o original feito em Portugal. Graças ao perfeccionismo, a Quinta do Olivardo cresceu e se profissionalizou com excelência, tal como o próprio Roteiro do Vinho, que vive uma nova fase no enoturismo, uma grata surpresa para quem ainda pensa que São Roque só sabe fazer vinho de garrafão.

 

Publicado em: 24/07/2024
Atualizada em: 24/07/2024