Uma road trip em alto e bom som pela Rota da Música, nos EUA
Em New Orleans, a música excelente está em qualquer bar ou esquina da cidade. O mesmo acontece em outras três cidades do sul dos Estados Unidos, próximas umas das outras e que podem ser unidas em uma só viagem de 1.000 km: Memphis, Muscle Shoals e Nashville, principais expoentes do que é conhecido como Rota da Música.
Cada uma tem seu estilo e muita história para contar. New Orleans é o berço do jazz, onde nasceu Louis Armstrong e tantos outros fenômenos que imortalizaram o estilo. Dali são cerca de seis horas de carro cortando o Mississipi e invadindo o Tennessee até alcançar Memphis, a terra de Elvis Presley.
Uma guinada de 2h30 ao leste rumo ao Alabama leva a Muscle Shoals, a cidade das gravadoras que, no passado, eram frequentadas por estrelas como Mick Jagger, Cher, Rod Stewart e Eric Clapton. E o roteiro termina com chave, ou melhor, disco de ouro com mais 2h30 de estrada em direção a Nashville, onde nasceu o country, novamente no Tennessee.
Nessa road trip pela história da música – e pela alma americana –, a atmosfera retrô é parte importante da experiência. As muitas lojas de discos de vinil e lanchonetes que preservam a decoração dos anos de 1950 ajudam o viajante a entrar no clima daqueles tempos em que Bob Dylan e Joe Cocker, no intervalo das gravações, jogavam bilhar e fumavam horrores em um insano bar instalado dentro do estúdio Cypress Moon, em Muscle Shoals.
Os tempos passaram, mas a diversão segue no mesmo nível. Ligue o rádio e percorra o caminho de grandes estrelas que colocaram o planeta para dançar.
New Orleans
Na terra natal de Louis Armstrong, o mais bacana para o viajante é fazer uma imersão no caldeirão cultural de French Quarter, um bairro que nem parece estar nos Estados Unidos. Lembra mais uma cidade histórica caribenha, dessas com casas coloridas e sacadinhas onde pendem vasos de flores.
A semelhança não é mera coincidência. O bairro tem mesmo origem latina, surgiu de uma mescla de colonização francesa, espanhola e creole (imigrantes do Caribe).
Hoje, essas simpáticas casas de atmosfera tipicamente caribenha são ocupadas por cafés, galerias, restaurantes e até por lojas de bonequinhos vodus (que fazem parte da cultura e da religião vodu, que mescla crenças africanas, levadas pelos afrodescendentes).
Em meio a esse cenário, está a famosa Bourbon Street e sua espantosa sequência de bares e fachadas com placas néon. Quando a noite cai, a rua é invadida não só pela música ao vivo que ecoa dos bares, mas também por pessoas de todos os tipos: amigos idosos, grupos de jovens, executivos sozinhos, casais de meia idade…
Todo mundo se encontra por ali com um só objetivo: se divertir como se não houvesse amanhã e escutar jazz de qualidade. O bacana é que não é preciso pagar para entrar nos bares, e a contribuição aos músicos é voluntária.
Se quiser ares mais maduros e menos décadence avec élégance, siga para outra rua, a poucos quarteirões dali: a Frenchmen Street, com clubes de jazz tão movimentados quanto na Bourbon e com a mesma qualidade que marca New Orleans. Ali você encontrará mais locais e menos turistas, com uma animação que parece não ter fim em quase todos os dias da semana.
Memphis
De New Orleans, são 635 km de estrada até Memphis, no Tennessee. Carregue a sua playlist com músicas como Walking in Memphis e Memphis Blues Again para entrar no clima da cidade, que também tem a sua “Bourbon Street”: é a espalhafatosa Beale Street.
Todas as noites, a rua se transforma em uma grande festa, com jovens alvoroçados e muitos bares onde não é preciso ter dia certo para escutar um bom blues, jazz ou rock ‘n’roll. O mais famoso é o B. B. King Blue Club, que preserva estilos diferentes em cada um de seus andares.
No térreo, bandas de blues tocam alto animando a galera e, no último andar, um piano e um saxofone criam um clima intimista que embala o restaurante romântico, de culinária sulista, com vista para a Beale Street. Uma vez lá, não deixe de pedir a sopa de caranguejo, eleita por um jornal norte-americano como uma das dez melhores do país.
Se quiser um passeio mais tranquilo a dois, longe dos grupos de jovens histéricos, vá à regiões como a Overton Square. A dica é seguir ao Lafayette’s Music Room, para ouvir um excelente show de jazz, blues ou rock ‘n’roll enquanto saboreia uma cerveja local, como a Memphis Made. O bar tem tradição: Billy Joe tocou ali nos anos de 1970.
Dez entre dez turistas que chegam a Memphis vão conhecer a mansão completamente kitsch do astro Elvis Presley. Fãs peregrinos atravessam os Estados Unidos e choram na frente do túmulo do Rei do Rock disposto em frente à piscina da casa, apelidada de Graceland. Mesmo que você não seja fã do artista mais icônico do país, vale conhecer os ambientes mantidos originais e que foram decorados pelo próprio Elvis.
Muscle Shoals
Ao partir de Memphis, 200 km de estrada o levará a Muscle Shoals, uma pequena cidade do Alabama, no trajeto até Nashville. É bem provável que você nunca tenha ouvido falar dela, mas Muscle Shoals é a meca das gravadoras dos grandes astros da música internacional.
No Muscle Shoals Sound Studio, por exemplo, foram gravados os grandes hits dos anos de 1970. Estiveram ali, só para citar alguns, Cher, Mick Jagger, Rod Stewart, Paul Simon e os Lynyard Skynyrd. O estúdio, que funcionou até 1978, está aberto à visitação.
Outra parada musical divertida rola no Fame Recordings Studio, aberto desde 1959 e o mais antigo da região ainda em funcionamento. Nas visitas guiadas que rolam ao longo do dia, você vai ouvir histórias do arco da velha a respeito de algumas celebridades que ali estiveram. Mas o melhor de tudo é pisar no mesmo lugar sagrado por onde já passaram Beatles, Elton John, B. B. King, Janis Joplin e Tina Turner.
Nashville
Não é preciso conhecer a típica música do interior dos Estados Unidos para perceber que você desembarcou na terra natal do country. Em Nashville, a 202 km de Muscle Shoals, todo mundo usa botas de couro mesmo no calorão.
Aliás, essa é uma das cidades mais jovens do Sul do país. A galera toma as ruas, como a avenida dos bares, a Broadway, que é um formigueiro humano, e lota as tradicionais churrascarias desse pedaço do Tennessee.
O templo do country é o imenso museu Country Music Hall of Fame, onde também está a Hatch Show Print, uma das primeiras gráficas do mundo especializadas na impressão de pôsteres de shows. Ainda em funcionamento, rende bons suvenires para decorar as paredes de casa.
É do Country Music Hall of Fame que sai um ônibus que leva a um estúdio lendário: o Studio B, onde Elvis Presley gravou 250 músicas. Ali, são exibidos vídeos dos cantores gravados naquelas mesmas salas nos anos de 1960. Pelas caixas de som rolam músicas do Rei do Rock, e a iluminação do ambiente é exatamente a que ele apreciava no momento de gravar.
Mais um lugar que não pode faltar no roteiro por Nashville é o lindo Ryman Auditorium, uma antiga igreja transformada em casa de shows há cerca de um século. Tem bancos originais de 1872 e já recebeu diversos gigantes da música: Neil Young, Santana, B. B. King, Ringo Starr, Rod Stewart..
Atualizada em: 11/05/2023