Festas, alto astral e muita diversão em New Orleans – Voupranos

Festas, alto astral e muita diversão em New Orleans

Adobe Stock: Nova Orleans – SeanPavonePhoto

Para o bem e para o mal, quando se pensa em atrações, New Orleans é a cidade americana que menos se parece com os Estados Unidos. Colonizada por franceses, entregue aos espanhóis e devolvida novamente aos franceses antes de ser finalmente comprada pela terra do Tio Sam, já em 1803, criou uma atmosfera própria, baseada nos costumes dos escravos negros que lá viviam e nos creoles, seus descendentes com os europeus colonizadores.

Assim surgiram a arquitetura singular da região, vista nos famosos sobrados avarandados do French Quarter (o centro histórico); os bondes charmosos pelas ruas; a comida repleta de especiarias, farta em frutos do mar e que dá água na boca; um clima um tanto quanto assombrado, potencializado pelas histórias do voodoo, tradição religiosa ainda bastante viva por lá; e, principalmente, um estilo musical que não demorou a conquistar o mundo: o jazz.

Adobe Stock: French Quarter, Nova Orleans – Calee Allen

Berço do jazz

Apesar da origem incerta, o ritmo é mais um entre os que têm como base o blues. Tal como o samba brasileiro, no entanto, criou uma estética própria e se desenvolveu ao misturar improviso com certa dose de malandragem. Aos poucos, caiu no gosto da elite sulista americana e se perpetuou com o acréscimo de novos instrumentos e a estima dos músicos pelos trajes elegantes.

Não faltam nomes que, com maestria, levaram o jazz de New Orleans para o resto do planeta, como Jelly Roll Morton, Sidney Bechet e, acima de todos, o filho mais ilustre da cidade, Louis Armstrong. Hoje, canções dessas e de outras lendas podem ser ouvidas por lá a qualquer hora do dia. De verdade.

No café da manhã, por exemplo, o Court of Two Sisters, restaurante que funciona em um prédio de 1726, conta com um trio que toca baixo, corneta e violão em um arborizado quintal, enquanto os comensais iniciam o dia com uma típica refeição creole. A partir daí, basta caminhar pelo French Quarter para se deparar com bandas, às vezes com mais de dez pessoas, tocando nas ruas com o sol raiando.

Adobe Stock: Restaurante Two Sisters, Nova Orleans – Fotoluminate LLC

Adobe Stock: Estátua da Banda de Louis Armstrong, Nova Orleans – Rmbarricarte

Quando a noite dá as caras, o leque de opções aumenta o volume. Dá para ouvir um bom jazz em restaurantes luxuosos, onde músicos vêm tocar na sua mesa e aceitam sugestões, ou em casas noturnas como a The Jazz Playhouse, na lendária Bourbon Street, palco em que gerações novas mantêm o ritmo na moda. Peça um sazerac, o drinque local a base de uísque, xarope de açúcar, bitter, limão siciliano e absinto, e aprecie (a música) com moderação.

Não há lugar mais clássico para ouvir jazz em New Orleans, porém, do que o Preservation Hall. Ali, a clássica banda que leva o nome da casa faz até cinco apresentações por noite, com muito improviso e um clima um tanto quanto pitoresco.

Não há poltronas confortáveis, ar-condicionado ou bar. O máximo que você pode fazer é reservar um dos assentos ao lado do palco e garantir a entrada com antecipação para pegar uma fila menor, mas, acredite, o clima por lá é outro.

O ambiente embolorado, os bancos de madeira, a parede descascada, a proibição de fazer fotos e, principalmente, o show unplugged visam reviver a música como era tocada antigamente, sem maiores rodeios. O luxo, ali, está no que entra pelos seus ouvidos.

Adobe Stock: Pubs e bares no French Quarter, Nova Orleans – F11photo

Adobe Stock: Jazz, Nova Orleans – GeoffGoldswain

Vida noturna

Pouco importa a hora: há sempre o que fazer em New Orleans. Com exceção de Nova York, a maior cidade da Louisiana é, provavelmente, o único lugar dos Estados Unidos em que você encontra multidões caminhando pelas ruas na alta madrugada. Principalmente na Bourbon Street, o coração pulsante do French Quarter.

O local, porém, é um reduto de apreciadores da bebida alcoólica motivados com a possibilidade de ingerir álcool legalmente fora dos bares (o que é raro no país), e só fica divertido para valer nos clubes exclusivos ou durante o Mardi Gras, o famoso carnaval local, quando as ruas se enchem de cores e bandas.

Uma sugestão melhor em outras épocas do ano é deixar o bairro para trás durante a noite e seguir rumo a Frenchmen Street. Preferida dos nativos, a rua conta com diversos clubes de ótimo nível, como o The Spotted Cat e o Maple Leaf, onde (adivinha?) rola jazz de primeira.

Com o sol raiando, quem estiver recuperado da noite anterior encontra um French Quarter mais calmo, principalmente nas travessas e paralelas da Bourbon Street. Essa é a melhor hora para apreciar as edificações com sacadas coloniais tomadas por samambaias, as galerias de arte e as lojas de luxo da Royal Street.

Quem quiser ver de perto a primeira corneta de Louis Armstrong a encontra ali perto, no New Orleans Jazz Museum. O lugar é bastante simples, mas reúne ainda outros instrumentos históricos e referências importantes à cena musical da cidade.

Adobe Stock: Museu de Jazz de Nova Orleans – William A. Morgan

Adobe Stock: Maple Leaf Bar no Mardi Gras, Nova Orleans – William A. Morgan

Mansões de celebridades

O French Quarter guarda ainda outras joias, como a animada Jackson Square, onde fica o Cafe Du Monde. Ali, todos os dias, há filas de pessoas querendo provar o bom café com leite servido com beignets, espécies de bolinho de chuva com (muito) açúcar de confeiteiro. Quem entra pela lateral e encontra mesas vazias pode sentar com mais conforto e menos espera.

Do restaurante é fácil alcançar o calçadão às margens do lendário Rio Mississípi, fundamental para o desenvolvimento da região – e que, curiosamente, fica acima do nível de New Orleans, o que foi determinante para, durante a passagem do furacão Katrina, em 2005, fazer com que as águas extravasassem os diques e destruíssem a cidade, hoje quase que totalmente recuperada. Barcos a vapor fazem tours diários pelo rio, sempre ao som de jazz.

Mas é preciso sair de lá para conhecer áreas menos turísticas, embora igualmente interessantes. É o caso do Garden District, onde a elite americana do século 19 se instalou para não se misturar aos creoles.

Adobe Stock: Jackson Square, Nova Orleans – Rmbarricarte

Adobe Stock: Cafe Du Monde, Nova Orleans – James

Hoje mais democrático, felizmente, o bairro ostenta casarões históricos, muitos deles adquiridos por astros do cinema, como Sandra Bullock e John Goodman. O excêntrico Nicolas Cage também teve uma mansão ali, mas foi um dos que a vendeu (e comprou também) por acreditar ser mal-assombrada.

Esse clima sinistro traz à mente outra estrela e mais uma atração do bairro: Brad Pitt e o cemitério Lafayette. Digamos que visitar túmulos não é algo muito divertido, então, vale saber apenas que ali foi gravada uma cena de Entrevista com o Vampiro, filme estrelado pelo ex-marido de Angelina Jolie e que foi inspirado no livro homônimo de Anne Rice, mais uma filha ilustre de New Orleans e que usou todo o caráter excêntrico local em sua obra.

Antes de ir embora, não deixe também de conhecer o bairro Tremé, muito bem retratado em uma série de TV com o mesmo nome. Autêntico, o local foi destruído pelo Katrina, mas, como o resto da cidade, se reergueu com estilo.

É lá que fica o Louis Armstrong Park, onde repousa uma estátua do Rei do Jazz. Ao lado da escultura, é bom demais avistar as tais árvores verdes e rosas vermelhas, os céus tão azuis e as nuvens tão brancas de New Orleans que ele exalta docemente em What A Wonderful World.

Adobe Stock: Villa Mansion, Garden District, Nova Orleans -Bill Perry

Adobe Stock: Parque Louis Armstrong, Tremé, Nova Orleans – Nigar

Adobe Stock: Parque Louis Armstrong, Nova Orleans – E. M. Winterbourne

Publicado em: 06/06/2023
Atualizada em: 06/06/2023
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