Diamantina, Guimarães e Veadeiros: conheça a beleza das chapadas brasileiras
“Chapada”, no dicionário, quer dizer “área de terra elevada, de dimensões consideráveis, com topo relativamente plano”. Na prática, chapada significa um monte de paisagens incríveis, rios de água cristalina e grutas impressionantes. Das chapadas brasileiras, pelo menos três têm forte vocação turística. A mais famosa é a Chapada Diamantina, no interior da Bahia. A outra é a Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, com seus paredões avermelhados debruçados sobre o Pantanal. E a terceira, a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, marca o encontro da natureza com o esoterismo. Todas tem vários pontos em comum, como as matas de cerrado, a abundância de água e curiosas formações rochosas. Mas isso não quer dizer que elas sejam iguais. Cada uma tem beleza própria e uma forma especial de encantar os visitantes. Quem conhece uma fica imediatamente tentado a descobrir as outras também. Na dúvida, fique com todas.
Chapada Diamantina
A mais famosa das chapadas brasileiras é um conglomerado de serras verdejantes no sertão da Bahia, como um imenso oásis em meio a caatinga. Um dia, tudo ali já foi mar, como atestam suas curiosas formações de calcário, que são dunas de areia compactadas ao longo de milhões de anos. A água brota farta do subsolo, formando rios e grandes cachoeiras, e o tempo tratou de escavar grutas e cavernas tão lindas que só vendo mesmo para entender. O nome Diamantina não se deve apenas a natureza realmente preciosa da região, mas porque a sua história tem a ver com os diamantes, ali fartamente garimpados no século 19.
A principal cidade da região, Lençóis, tem um centro histórico com belos casarões e ruas calçadas de pedras. Ela serve de base para quem quiser explorar as inúmeras belezas que se espalham pela região. É o caso da Cachoeira da Fumaça, a maior do Brasil com 340 metros de altura, a maior do Brasil. A queda é tão alta que parte da água evapora formando uma cortina de vapor sobre o Vale do Capão. Já o mirante do morro do Pai Inácio exibe a visão clássica da Chapada: um conjunto de montanhas de platô achatado que se estendem até o horizonte.
Impossível não se admirar com o Poço Encantado, uma gruta com um estupendo lago azul de águas cristalinas, que é parcialmente iluminado com um facho de luz que incide pela lateral da caverna por um buraco da rocha. O raio solar ilumina as pedras do fundo do lago, que podem ser vistas com facilidade, mesmo estando a mais de 40 metros de profundidade. A água iluminada fica refletida no teto da gruta, criando um inusitado efeito visual.
No Poço Encantando não é permitido nadar no lago, para preservar aquele frágil ecossistema, mas em quase todos os outros lugares da chapada a integração com a natureza é total. Na Gruta da Pratinha e na Gruta Azul, por exemplo, não basta ver a transparência da água, é preciso experimentá-la, o que é a melhor coisa a se fazer no calorão do interior da Bahia.
Com área total de 70 mil quilômetros, a Chapada Diamantina compreende 28 municípios. Por isso, alguns atrativos importantes ficam mais afastados de Lençóis, como a Cachoeira do Buracão, que joga suas águas dentro de um cânion de pedra estreito, formando um poço para nadar às braçadas. A cachoeira está próxima ao município de Ibicoara. Há portanto, muito o que ver a aproveitar. Levaria meses para conhecer tudo o que a região oferece. Tanto que muitas operadoras oferecem pacotes de viagem com diferentes roteiros pela Chapada Diamantina. O que é bom, porque você sempre terá um novo motivo para voltar para lá.
Chapada dos Guimarães
Em apenas meia hora de carro de Cuiabá um conjunto de paredões avermelhados, com centenas de metros de altura, surgem à beira da estrada. Um pouco mais adiante, à medida que a estrada começa a subir, são os abismos de dar vertigem que aparecem ao lado da pista. E assim, em pouco mais de uma hora, entre muitas surpresas pelo caminho, você chega a pequena cidade de Chapada dos Guimarães, a porta de entrada para conhecer as grandes belezas dessa região do Mato Grosso.
Por conta da proximidade com a capital Cuiabá – do aeroporto são apenas 80 km – Guimarães é a mais acessível das chapadas brasileiras. Muitas atrações, aliás, ficam ao lado dessa estrada de acesso, a BR-251. É o caso, por exemplo, do Balneário Salgadeira (com cachoeiras) e do Mirante do Centro Geodésico, que dá vista para os paredões rochosos. O visual do mirante, no alto dos penhascos, é realmente fabulosa. Dizem por lá que o local marca o centro geodésico da América do Sul, que significa dizer que a distância dali para o Oceano Atlântico e para o Pacífico é a mesma.
E até o principal cartão-postal da chapada, a Cachoeira Véu de Noiva, que fica dentro da área do Parque Nacional Chapada dos Guimarães, está a poucos metros de distância do asfalto da rodovia. Você deixa o carro em um estacionamento do parque já quase ao lado do cânion de 80 metros de altura, em cujo vértice desaba para o vazio as águas do Rio Coxipó. Mas o espetáculo não termina aí. Uma trilha de 3,5 km, que acompanha o leito do rio e ganhou o nome de Circuito das Cachoeiras, leva a mais sete quedas de águas cristalinas, ótimas para nadar e se refrescar.
Dentro do Parque Nacional, o mirante da Cidade de Pedra, onde os paredões atingem a maior altura, chegam a 400 metros, rende as melhores fotografias, especialmente ao entardecer, quando a luz solar tinge as rochas com incríveis tons avermelhados.
Outro passeio clássico é o Circuito das Cavernas, um conjunto de grutas que fica em uma propriedade particular, a 40 km da cidade. Lá está a caverna Aroe Jari, a maior cavidade de arenito do Brasil, com 1.550 metros de extensão. Já a Gruta do Lago Azul, como o nome diz, tem um lago de águas cristalinas dentro, onde banhar-se é proibido, porque o lugar é objeto de estudos científicos.
Três ou quatro dias é o suficiente para conhecer os principais atrativos da Chapada dos Guimarães. Se tiver mais tempo, estique até Nobres, espécie de Bonito do Mato Grosso, onde o grande barato é fazer os passeios de flutuação em rios de águas límpidas repletas de peixes. É o complemento ideal da viagem.
Chapada dos Veadeiros
A Chapada dos Veadeiros é um dos destinos mais falados do Centro-Oeste do país. Ganhou fama por sua curiosa mistura de misticismo com natureza, um lugar para onde todos os que curtem o brilho de um cristal e a poeira de uma trilha (ou melhor ainda, as duas coisas juntas) querem ir. O coração da região é a pequena cidade de Alto Paraíso, a 230 km de Brasília. Ela chama a atenção não só pelas muitas araras que cruzam o céu mas também por algumas curiosas casas em formato de gotas, iglus e pirâmides, que refletem a veia esotérica de boa parte dos moradores.
Muitos dizem que existe uma energia especial na Chapada dos Veadeiros, que se deve a uma imensa placa de cristal quartzo que se estende pelo solo da região. Para os místicos é um éden. Roteiros zen levam os turistas tanto a templos de meditação e comunidades alternativas quanto as paisagens de beleza bem real, como o Vale da Lua, cujas formas curvas das rochas fazem parecer que você está pisando em uma paisagem lunar e ainda oferece um delicioso banho de cachoeira.
Nos anos de 1960, boa parte da Chapada dos Veadeiros foi transformada em parque nacional. Dentro da área preservada estão as melhores paisagens e cachoeiras. O parque fica ao lado do vilarejo de São Jorge, a 36 km de Alto Paraíso. O povoado é simples, com poucas ruas de terra e muitas pousadas. Tem um astral que lembra Jericoacoara de antigamente. É o principal ponto de encontro dos ecoturistas que vão conhecer os grandes cartões-postais da região, como o Salto do Rio Preto, com duas fantásticas cachoeiras, de 80 e 120 metros de altura, a apenas 6 km da entrada do parque. Só dá para chegar caminhando. Mas ninguém reclama, porque o cenário ao final compensa o esforço na trilha. De lá, são mais 3 km até os Cânions da Carioca, duas gargantas de rocha por onde passa um rio, formando cachoeiras e piscinas naturais.
Fora da área do parque vale conhecer as lindas cachoeiras Almécegas I e Almécegas II, que ficam quase lado a lado e tem trilhas mais fáceis de vencer; além da belíssima Catarata dos Couros, uma versão em miniatura de Foz do Iguaçu.
Para recuperar os músculos após tantas caminhadas basta recorrer aos massagistas de Alto Paraíso. Há muitos deles na cidade, que oferecem técnicas de relaxamento inusitadas, como a massagem ayurvédica, que torce os músculos e estala os ossos. Uma sessão e você está pronto para encarar novas jornadas pelas trilhas.
Se quiser conhecer o principal da Chapada dos Veadeiros reserve, pelo menos, uma semana inteira. Nesse tempo, qualquer um sai de lá com o corpo e a alma lavados. Quem busca sossego também encontra nas muitas pousadas cercadas pela mata de cerrado, ideais para ficar de papo pro ar. E quem quiser ver um disco voador, basta olhar para o céu em buscas de luzes misteriosas. Dizem por lá, que, vez ou outra, algum aparece. Se é verdade ou não, não se sabe, mas isso faz parte da mística da Chapada dos Veadeiros.
Atualizada em: 27/01/2023